A sabotagem como guerrilha contra a algoritmia do caos: resistência filosófica e desobediência digital




E.E. Kan

Território Kan, 2025


“A única forma de sabotar a algoritmia do caos é não seguir ninguém. Quer saber de uma notícia? Procura a página de notícia. Quer saber de alguém? Procura o perfil desse alguém. Além de sabotar as grandes corporações, exercita a mente pesquisando e fazendo buscas. Fora isso, é abandonar de vez as redes umbrais sociais. Contudo, o capitalismo tecnocrata ultra-dinheirista, se tornou onipotente, onisciente e onipresente, está em tudo, e está passando por cima de todos como um rolo compressor. Tudo e todos são produto, mercadoria e moeda ao mesmo tempo. É uma autofagia brutal e desumanizadora. Infelizmente.”

    — KAN, E.E. Filosofia Insólita, 2025.


O ponto de partida: resistir ao fluxo

Essa teoria que apresento aqui nasce do incômodo visceral com o modo como vivemos conectados — ou melhor, aprisionados — dentro de um sistema que se vende como liberdade, mas é controle puro. A “algoritmia do caos” reflete o caos fabricado, programado pelas corporações capitalistas tecnocratas. Nada é espontâneo. Tudo é cálculo, predição e coleta/roubo de dados. Tudo é jogado no moedor de mentes e transformado em mercadoria e dinheiro. 

Com efeito, desta forma, não seguir ninguém é mais do que um gesto estratégico e técnico. É uma postura ética, um ato de rebeldia digital, sobretudo, uma reafirmação do 'sim para a vida', e a reafirmação da própria vida em toda a sua potência em constante ressignificação. Além disso, penso que não seguir ninguém, é uma escolha que reafirma a liberdade individual porque é uma escolha filosófica, mental, moral e espiritual.

É tirar o corpo, a mente, o coração e a alma do nefasto 'instinto de rebanho do feed', sobretudo, é escolher não ser gadizado, nem tornado moeda de monetização que eleva ações nas bolsas de valores e enriquece mais ainda os já ultra-bilionários acionistas das grandes corporações, que controlam as redes umbrais sociais e toda sua algoritmia do caos IA-lizada, que tem como escopo final, desumanizar a maioria da humanidade.

Em vez de esperar o conteúdo me encontrar, eu vou atrás. Quero saber de algo? Eu busco. Eu escolho. Eu decido. Isso, num mundo que te quer passivo o tempo inteiro, é uma atitude revolucionária, no meu simplório e realista modo de ver as coisas.

Redes umbrais: o purgatório das identidades

Chamo as redes sociais de redes umbrais porque é isso que elas são: zonas intermediárias entre o real e o espectral. A gente se torna avatar, filtro, persona de si mesmo. Nada ali é de fato humano. É tudo performance. É tudo vitrine. É tudo um tremendo fingimento. 

Abandonar essas redes não é nostalgia de um mundo analógico. É necessidade existencial. É higiene mental. É resgate da sanidade. É dizer: “não quero mais ser visto como produto, audiência ou moeda de troca”.

E sim, isso é possível. Mas exige coragem para ficar invisível, sobretudo, 'ser ninguém', num mundo onde todo mundo quer ser notado, curtido e seguido.

Capitalismo tecnocrata ultra-dinheirista: a máquina devoradora

Hoje, tudo é mercadoria. Corpo, pensamento, tempo livre, até a nossa solidão e o nosso tédio são rentáveis (para as grandes corporações e para quem paga para ser visto e monetizado, ou seja, paga para se 'coisificar' e virar o próprio produto, mercadoria e moeda).

Vivemos num capitalismo tecnocrata ultra-dinheirista — uma engrenagem que tritura tudo e todos. Você não é só consumidor: você é também produto e investimento. A vida das pessoas, virou um mero produto do marketing nefasto.

Essa lógica é autofágica. O sistema come a si mesmo, e ainda pede mais. Estamos no meio de um banquete canibal de dados, curtidas e ads. E o pior: muita gente aplaude a própria desgraça. 

O que proponho não é solução definitiva. É sobrevivência mental, humana, filosófica. É desobediência estratégica. É um jeito de não enlouquecer — ainda que isso nos torne “invisíveis” 'ninguéns' para os algoritmos. Melhor ser invisível e ser ninguém do que ser usado e abusado para deixar alguns podres de ricos, mais podres de ricos. Usar os canais, ocupar as redes (embora umbrais), com essa tática rebelde e revolucionária, para talvez reurbanizar as próprias redes e contribuir para uma 're-humanização da humanidade', há tempos perdida na 'coisificação, na banalização e espetacularização da vida'. 

Conclusão: a filosofia da busca

Minha teoria não é utopia, nem manual de salvação digital. É só uma provocação. Um chamado ao pensamento. Um cutucão na zona de conforto virtual. Parar de seguir pode parecer pouco e até pode ser impossível para a maioria das pessoas (infelizmente já imersas no processo desumanizatório imposto pela Algoritmia do Caos IA-lizada das redes umbrais sociais), mas pode ser muito se um grande número de pessoas resolver aderir a essa nova forma de viver e ser, sendo dono do seu sim e do seu não, se auto-resgatando no meio do caos do mundo em acelerado declínio, rumo ao colapso civilizatório.

É o que nos resta, romper (ao menos em parte e de modo realista) com a lógica do consumo automático. Exercitar a mente. Pensar/Filosofar no ato de procurar.

No fundo, trata-se de reconquistar o próprio olhar. De pensar por conta própria. De ser um ponto fora da curva — mesmo que isso custe caro. E é isso que a Filosofia sempre fez: incomodar, resistir e propor outras formas de estar no mundo.

Use a tecnologia como uma ferramenta a seu favor e não seja usado por ela, sobretudo, pelos donos da tecnologia, aqueles que só pensam em dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. 

Não siga ninguém. Procure por conta própria, pesquise, busque, mude a forma de pensar e ser. Se revolucione! 


___E. E-Kan 



>>>LIVROS PUBLICADOS>>>>

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Referências


BAUDRILLARD, J. A Sociedade de Consumo. São Paulo: Edições 70, 1991.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1996.

HAN, B.-C. Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Petrópolis: Vozes, 2022.

KAN, E.E. Filosofia Insólita. Território Kan, 2025. Disponível em: https://ekanxiiilc.blogspot.com/2022/10/filosofia-realista-insolita.html

ZUBOFF, S. A Era do Capitalismo de Vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

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