Arthur Koestler e o suicídio digno



Todo dia é dia de viver bem e todo dia vivendo, ainda que bem, podemos morrer à qualquer momento...


Como um realista reafirmador da vida, apesar de pesares, desejo que todos nós possamos viver o máximo de anos possível e bem. Mas, se por qualquer motivo, nosso corpo físico definhar antes de colapsarmos em nós mesmos, rumo ao Desconhecido dos desconhecidos, defendo a ideia de que tenhamos o direito legal e humano de desligar a tomada como bem pudermos, de preferência em paz relativa, sem dor, de uma maneira digna, adequada e sem onerar ninguém. Penso que todos devem lutar até o fim, mas não havendo nada mais a se fazer, ninguém deve sofrer até o fim e se tornar um peso para os outros. Mas, cada um, cada um...Respeito todas as opiniões em contrário.

Nosso personagem nessa ocasião


Arthur Koestler foi um escritor e ativista político húngaro, naturalizado inglês, nascido em 1905 e falecido em 1983, aos 77 anos. Ele viveu a perseguição antissemita na Hungria, o que o levou a se mudar para a Áustria e, posteriormente, a participar do movimento sionista na Palestina. Koestler trabalhou como jornalista, cobrindo eventos significativos como a Guerra Civil Espanhola, e foi preso pelos nazistas antes de se estabelecer na Inglaterra. Conhecido por sua crítica ao stalinismo, sua obra mais famosa é "O Zero e o Infinito". Sofrendo de Parkinson e leucemia, ele e sua esposa Cynthia cometeram suicídio em 1983, deixando cartas que expressavam suas razões para essa decisão. O funeral ocorreu em Londres, refletindo a complexidade de sua vida e suas convicções sobre a morte digna.


Carta de Arthur:

[...] "A quem possa interessar. O objetivo desta nota é para torná-lo inequivocamente claro que tenho a intenção de cometer suicídio tomando uma overdose de drogas sem o conhecimento ou ajuda de qualquer outra pessoa. As drogas foram legalmente obtidas e acumuladas ao longo de um período considerável. Tentar cometer suicídio é um jogo cujo resultado será conhecido pelo jogador somente se a tentativa falhar, mas não se for bem-sucedido. Caso esta tentativa falhar e eu sobreviver em um estado deficiência física ou mental, em que já não posso controlar o que é feito para mim, ou comunicar meus desejos, solicito que me seja permitido morrer na minha própria casa e não ser ressuscitado ou mantido vivo por meios artificiais. Peço ainda que a minha mulher, ou um médico, ou qualquer amigo presente, deve invocar habeas corpus contra qualquer tentativa de me remover forçosamente da minha casa para o hospital. Minhas razões para tomar a decisão de pôr fim à minha vida são simples e convincentes: a doença de Parkinson e a leucemia (CCI) estão me matando lentamente. Mantive a última um segredo até mesmo de amigos íntimos para salvá-los da aflição. Depois de um declínio físico mais ou menos constante ao longo dos últimos anos, o processo chegou agora a um estado agudo com complicações adicionais que tornam aconselhável procurar autolibertação agora, antes de me tornar incapaz de tomar as providências necessárias. Eu desejo que meus amigos saibam que eu estou deixando a sua companhia em um quadro de paz de espírito, com algumas esperanças tímidas para uma "pós-vida", para além dos devidos limites de espaço, tempo e matéria e além dos limites da nossa compreensão. Este "sentimento oceânico" muitas vezes me sustentou nos momentos difíceis, e fá-lo agora, enquanto estou aqui escrevendo. O que, no entanto, torna difícil de tomar este passo final é o reflexo da dor que provocará em meus amigos sobreviventes, acima de tudo, minha esposa Cynthia. É a ela que eu devo a relativa paz e felicidade que eu gozei no último período da minha vida - e como nunca antes.

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A nota acima datada de Junho de 1982. A seguir apareceu o seguinte:

Uma vez que o acima foi escrito em Junho de 1982, minha esposa decidiu que, após trinta e quatro anos de trabalho conjunto, que ela não poderia enfrentar a vida depois da minha morte.


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Mais abaixo na página apareceu a nota de despedida da própria Cynthia:


Eu temo tanto a morte quanto o ato de morrer que está à frente de nós. Eu teria gostado de terminar a minha conta no trabalho para o Arthur - uma história que começou quando nossos caminhos aconteceram de se cruzar em 1949. No entanto, eu não posso viver sem o Arthur, apesar de certos recursos internos. Duplo suicídio nunca me atraiu, mas as doenças incuráveis de Arthur chegaram a um estágio que não há mais nada a fazer.

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O funeral ocorreu no Mortlake Crematorium, no sul de Londres, em 11 de Março." [...] (SUICIDÁRIO, 2012)


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O que você faria se estivesse numa situação dessas, sem chance de se recuperar e viver mais, relativamente bem? 


Mais de 1 milhão de pessoas comentem suicídio em todo o Planeta todos os anos, conforme a WordMeters. 



Está mais do que na hora dos governos respeitarem o Direito da Liberdade das Pessoas nessas questões de Pré-morte e legalizar a eutanásia clínica, o suicídio legal assistido com acompanhamento médico especializado. Ninguém, em situação de saúde irreversível, deve sofrer até o último suspiro. A menos que deseje sofrer. Isso, a meu ver, também é um direito. 


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[...] Suicídio e liberdade, suicídio como direito natural, suicídio assistido/eutanásia - Penso que o Suicídio é um direito natural como o direito à vida e o aborto e está intimamente ligado à Liberdade, o Livre Arbítrio. Você pode se dar ao direito de cometer suicídio como quiser, viver como quiser, abortar quando e como quiser, sobretudo, em relação ao aborto, em caso de violência, estupro etc. Penso que, independente do que as leis proibitivas baseadas em politicagens e visões anacrônicas de uma parcela abestalhada da sociedade fake que se diz 'conservadora' digam, as pessoas continuarão se suicidando, vivendo (legal ou ilegalmente, vide principalmente os políticos que fazem as leis), abortando, dando à Luz. EM CASOS DE IRREVERSIBILIDADE DO QUADRO DE SAÚDE, penso que o Suicídio assistido/eutanásia, em caso de estágio terminal, com autorização judicial ou não, se esta for a vontade da pessoa, também é um direito e futuramente, certamente, deve ser regulamentado no Brasil, a exemplo do que já vem correndo em outros Países, como na Colômbia, por exemplo. É claro que, por estarmos num país profundamente dividido e polarizado politicamente, vai ter muita discussão, politização e brigas de todos os lados. Espera-se que a racionalidade vença no final, que é autorizando tanto o suicídio assistido quanto a eutanásia clínica, sob autorização judicial, claro, a fim de garantir os direitos da pessoa que decidiu fazer o procedimento e, também, se evitar maiores problemas, sobretudo, legais, para os diversos lados envolvidos no procedimento. [...] E. E-Kan 


Viver ou morrer como bem entender, desde que pacificamente, é parte do sagrado direito à Liberdade. Qualquer lei ou norma que vise coibir ou limitar esse direito, deve ser sumariamente desrespeitada, quebrada, jogadas às traças. 

Leia também: 
Livro: Sobrevivendo às merdas da vida - manual prático contra o suicídio

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E. E-Kan 

Com fotos e infos de: https://osuicidario.blogspot.com 



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