O fim de tudo...e o reinício de tudo...
Resumo
Esta brevíssima reflexão despretensiosa aborda a inevitabilidade do fim de toda forma de existência — material ou imaterial, visível ou invisível, tangível ou etérea — a partir de evidências da cosmologia moderna, especialmente dos estudos de Stephen Hawking, Lawrence Krauss e Sean Carroll. Considera ainda a perspectiva filosófica do tempo como dimensão relativa, subjetiva e profundamente ilusória, colocando em xeque a relevância da própria história, da memória e da experiência humana. A partir da Teoria Zero, propõe-se uma reflexão sobre a origem e o destino da realidade como expressões do mesmo ponto: o nada. A inevitável destruição da Terra — engolida pelo Sol em expansão dentro de alguns bilhões de anos — é aqui utilizada como metáfora e evidência de que nem mesmo as estrelas duram para sempre. Tudo tende ao colapso, ao congelamento, à extinção ou ao esquecimento. Contudo, não se trata de um manifesto niilista, mas de um reconhecimento lúcido: mesmo que tudo caminhe para o fim, seguimos caminhando — como viajantes da luz em plena escuridão cósmica, buscando no esclarecimento alguma centelha de sentido para o fenômeno da vida.
A Vida, o Universo e o Resto Todo Vai Acabar (Mas Calma, Ainda Não Hoje)
A Terra vai morrer. Isso é fato. Não é uma metáfora, uma especulação mística ou uma alegoria poética. É termodinâmica, física estelar, inevitabilidade astronômica. Daqui a uns 5 bilhões de anos, o Sol — esse senhor de meia-idade cósmico — esgotará seu combustível de hidrogênio e começará a inchar como um velho inchado de raiva. Tornar-se-á uma gigante vermelha. E nesse processo belíssimo, letal e impiedoso, irá engolir Mercúrio, Vênus e, claro, a boa e velha Terra. Nada sobrará além de cinzas orbitais.
Stephen Hawking já nos lembrava com certa tranquilidade apocalíptica que, se quisermos sobreviver como espécie, teremos que nos mudar de planeta (HAWKING, 1996). Mas mesmo essa mudança é apenas um adiamento. Porque depois será a vez do sistema solar todo desaparecer. E depois disso, a galáxia se fundirá com Andrômeda, e então, com o tempo, todas as galáxias se afastarão umas das outras até que o céu fique escuro para sempre — um universo sem estrelas, sem calor, sem cor, sem drama.
E, sejamos justos: nem mesmo o drama sobreviverá.
A física atual propõe três cenários finais: o Big Freeze (um congelamento total onde o calor morre e o tempo perde o ritmo), o Big Rip (onde a própria estrutura do espaço se desfaz) e o Big Crunch (onde tudo retorna ao ponto de origem, possivelmente para começar de novo ou não começar mais nada). Lawrence Krauss (2012) fala com entusiasmo sombrio sobre um universo que nasce do nada e retorna ao nada. Sean Carroll (2011) pondera que o tempo pode ser uma ilusão emergente, o que nos coloca em péssima posição: não apenas estamos condenados ao fim, como talvez nunca tenhamos existido de verdade.
E é aí que entra a nossa tese, exposta em Teoria Zero (E-KAN, 2024), para colocar o último prego no caixão cósmico da ilusão. Segundo ela, toda existência é uma expressão passageira de um valor nulo. O que somos, o que pensamos ser, o que sentimos como real — tudo isso é apenas uma oscilação momentânea do nada. O tempo, o espaço, a consciência, a matéria e até a espiritualidade seriam apenas manifestações transitórias de um campo-zero de possibilidades, destinado a cessar, dissolver, apagar, sem direito a backup.
Ou seja: toda e qualquer forma de existência, intrafísica (material, tangível) e extrafísica (imaterial, intangível), está fadada ao fim inevitável. Nada escapa. Nem anjos, nem ideias. Nem memórias, nem memes. A história? Um ruído que o silêncio do universo irá digerir como se nunca tivesse existido. A alma? Talvez uma centelha breve de autoilusão vibrando antes de cair no esquecimento cósmico. A matéria? Poeira. O espírito? Sujeito às mesmas leis termodinâmicas de decadência universal.
E, no entanto, aqui estamos nós — duvidando, rindo, chorando, escrevendo textos, filosofando sobre o fim com uma xícara de café na mão. Seres de carbono, mirando o abismo da entropia, tentando arrancar sentido de um cenário que grita: nada dura, nada resta, tudo some.
Então por que insistimos?
Porque somos viajantes da luz na escuridão. A escuridão está garantida. Mas a luz é escolha. Caminhamos, não porque o destino prometa salvação, mas porque o movimento em si é nossa forma de criar sentido. Não acreditamos mais em eternidade, mas ainda acreditamos no instante. Sabemos que a história é irrelevante diante da magnitude cósmica — mas mesmo assim a escrevemos. E lemos. E choramos. E amamos. E criamos. E nos revoltamos.
Não para vencer a morte — porque isso seria estúpido. Mas para dançar com ela enquanto o som ainda toca.
E quando tudo acabar — e vai acabar — talvez reste apenas a pergunta, ecoando no vácuo: tudo o que existe deixará de existir de fato? Haverá um reset cósmico como num novo Big Bang? Ou tudo evoluirá para uma existência imaterial onde o tempo e o espaço não fazem mais sentido? Ou tudo, absolutamente tudo, simplesmente descansará morto, terminado, extinto, como o último suspiro de um sonho que ninguém sonhou?
Não sabemos. Mas seguimos. Porque viver é isso: caminhar no escuro, com a tocha do esclarecimento na mão, perguntando o tempo todo: afinal, o que é isso tudo? A vida?
Por isso, reiteremos, permanece a indagação suprema: A Vida, que é Luz, nasce da Escuridão e corre pelo Abismo em direção ao Vazio. Haverá alguma coisa para além do Vazio? Quem de fato poderá dizer? Não há nada mais? Quem de fato saberá?
___E. E-Kan
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Referências:
CARROLL, Sean. O universo na mente do criador: o tempo, o espaço e o destino final do cosmos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo: do Big Bang aos buracos negros. São Paulo: Rocco, 1996.
KRAUSS, Lawrence M. O universo a partir do nada: por que existe algo em vez de nada? São Paulo: Planeta, 2012.
BBC News Brasil. Como (e quando) o universo vai acabar?. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgq35wx1dg7o. Acesso em: 09 jul. 2025.
E-KAN. Teoria Zero. 2024. Disponível em: https://ekanxiiilc.blogspot.com/2024/08/livro-teoria-zero.html. Acesso em: 09 jul. 2025.
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