Amor Fati de Nietzsche é desoladoramente lindo! Na teoria, porque na prática...



INTRO: O bom e velho Nietzsche, tentou superar Schopenhauer e não deu muito certo. Aí apelou para outro tipo de metafísica, uma metafísica pessoal amparada numa utopia pessoal, renegando a metafísica com o Super Homem. Ficou tão doido com sua incapacidade de ir além do homem Schopenhauer, que decidiu ir pro puteiro. Na primeira vez que foi ao puteiro pegou sífilis e se lascou perdendo tudo, especialmente, o amor de Lou Salomé. Os padres adoram estudar Nietzsche para entender que o Deus deles morreu pelas mãos do cara que foi ao puteiro.

SOBRE O AMOR FATI, ETERNO RETORNO ETC

Na teoria é lindo, mas todos sabem e até mesmo o moribundo Nietzsche sabia que na prática nada disso acontece. 

Primeiro que para compreender a ideia de 'amor fati' é necessário compreender a ideia do 'eterno retorno', que se encontram no livro IV de “A gaia ciência” (1882), compreender que para Nietzsche esse é um mundo sem Deus (Deus está morto) e, portanto, é um mundo,  um Cosmos sem vida além da morte física. Para Nitezsche, morreu, acabou, game over, Zé Fini. Além disso tudo, penso ser de suma importância considerar as condições mentais nas quais Nietzsche concebeu tais ideias, uma vez que se sabe que ele sofria de Sífilis e outros males após ter ido ao puteiro e, já na primeira vez,  se contaminado por lá. 

Quer dizer, ele já estava bem abalado emocionalmente, ciente de que seu estado de saúde, sobretudo, ciente de que a sua condição mental só piorava quando concebeu essas ideias. Então, filosoficamente, podemos inferir que as perspectivas de Nietzsche sobre a vida não eram lá muito otimistas e, podemos sim conjecturar que tais ideias são frutos do estado de moribundo no qual ele se encontrou por vários anos e que o levou à apoplexia e à morte posteriormente em 25 de agosto de 1900, 8 anos após a concepção da ideia de Amor Fati e do Eterno Retorno.

Obviamente, não estou asseverando que a condição de moribundo de Nietzsche e sua precária saúde mental, comprometem totalmente o seu complexo trabalho filológico e filosófico. Mas, infelizmente, todos sabemos que a condição mental, física, moral, psicológica e até mesmo 'espiritual', influencia drasticamente na vida de qualquer indivíduo nesse mundo e não foi diferente no caso de Nietzsche. 

Como disse antes,  sobre o 'Amor Fati', na teoria, a ideia de 'aceitação total de tudo', como pensada por Nietzsche vai de encontro com a bizarra e irreal ideia de 'se conformar com tudo', e isso desvela um pouco a sua condição mental, delirante em diversos momentos, mostrando um Nietzsche doente, cansado de tudo e de todos, sentindo-se amargamente incompreendido com o próprio Zaratustra e que, portanto, vai entregando 'os betes, as armas e desistindo', inclusive, chegando ao ponto, em dado momento, especialmente, no final de 'Humano, Demasiado Humano', de questionar tudo aquilo que pensou e escreveu, principalmente, contra Sócrates (O Jesus da Filosofia, 'o inquestionável', contém ironia). 

O fato é que, na vida real, há coisas que não nos conformamos mas engolimos à seco. Aturamos, toleramos mas, no entanto, não significa que as aceitamos. Não é?

O ser humano, naturalmente, sempre tende a se rebelar contra aquilo que o limita e o contraria. Então, a aceitação num sentido 'supremo', quase como uma coisa de guru, 'sábio', etc, é uma quimera, uma utopia, coisa de estelionatário da vida que quer as multidões mansas e aceitando tudo enquanto o guru lava a égua de ganhar dinheiro e faz sexo com todas as guruzetes.


Penso, no entanto, que o Amor Fati com o Eterno Retorno, no caso de Nietzsche, especificamente, foi uma forma que ele encontrou para NÃO ACEITAR A 'METAFÍSICA', SOBRETUDO, OS MISTÉRIOS DA VIDA OU ENTÃO, AS INFINITAS POSSIBILIDADES DA VIDA DIANTE DA IMENSIDÃO CÓSMICA INTERESTELAR, DA INCOMENSURABILIDADE DA VIDA E  DA INEFABILIDADE DA EXISTÊNCIA, (obviamente, Nietzsche não tinha a perspectiva que hoje temos do Cosmos, da quanticidade e das infinitas possibilidades da vida. Então, temos de dar um desconto ao nosso amigo bigodudo). 

Contudo, ainda sobre o Amor Fati, no sentido da aceitação de tudo sem chorumelas, embora pareça profundamente lindo, poético e até realista, na verdade, ao meu modo de ver, não passa de uma forma surreal de não aceitar "que isso poderia ser aquilo e não fosse apenas isso", quer dizer, que a vida é isso, uma constante alternância entre fodeção, dor e sofrimento, tristeza, escuridão, abismo, caos, medo, terror, desolação, ausência de sentido, morte, mas também alívio e raros momentos de 'alegria', raros bons momento de sentir-se vivo de verdade e, isso em todas as classes e idades, claro, uns sofrem mais outros menos. 

Contudo, o fato prático, falando de vivência no mundo cão na vida nua e crua, na realidade de fato, é que ninguém aceita a perda de um ente querido, a perda de alguém por quem teve profundo carinho, amor, respeito ou mesmo materialmente, ninguém aceita perder dinheiro, casa, carro, emprego, posses, propriedades, poder, status etc, ninguém aceita perder um amor, uma namorada, um namorado, um esquema. Talvez o único que aceite perder algo é o bêbado quando perde o rumo da casa e olhe lá (brincadeira). 

Por fim, quando Nietzsche fala que o 'Amor Fati' é uma espécie de "aceitação que só um espírito superior é capaz", ele está se colocando, como sempre, delirantemente, num altíssimo patamar, acima dos pobres diabos mortais como nós que temos de viver e suportar as agruras da vida num mundo cão e cada vez mais insano, injusto, miserável, idiota e violento como esse que vivemos dia a dia, gostemos ou não, aceitemos ou não,  nos conformemos ou não. 

Então, no fundo, penso que a teoria de Nietzsche sobre o Amor Fati, considerando  o Eterno Retorno, no sentido de que 'a vida vazia de sentido e por preencher-se, o mundo cão onde os fracos não tem vez, a ser humano que é lobo do próprio ser humano, numa constante 'competição', numa guerra de todos contra todos, isso tudo, sempre será a mesma merda até o fim dos tempos, até o fim da humanidade, só que em cenários diferentes que se adaptam às mudanças do tempo e da sociedade fake e, por isso, só nos cabe de fato suportar as fodeções, as agruras da vida numa realidade assim ou se auto-exterminar. 

Se auto-exterminando você está se fechando, ainda que temporariamente, já que, em  tese, nada é definitivo, para as muitas possibilidades da Vida.

SUPORTAR AS MERDAS DA VIDA, AS AGRURAS, AS DIFICULDADES E TUDO AQUILO QUE AFLIGE O SER HUMANO, engolindo à seco ou não, em silêncio ou não, se revoltando ou não, se conformando ou não, talvez, esse seja o sentido mais apropriado para o que seria uma ACEITAÇÃO REALISTA DA REALIDADE, distanciando-se, portanto, do conceito de Amor Fati Nietzscheano que existe em conformidade com o Eterno Retorno, numa aceitação de  gurus delirantes. 

Em resumo: não é porque digo "tudo bem", que tudo "está bem". Tudo pode estar bem e não estar ao mesmo tempo.  Então, embora digamos de vez em quando que 'aceitamos',  na prática nós não aceitamos nada, nós apenas suportamos a vida e todas as aflições de existir. 

E-Kan

Filosofia Realista 2023

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Imagem:  John Ambrose 

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