A "Revolução feudal” de Georges Duby (do livro As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo)
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Georges Duby, nesse texto, não está de brincadeira: ele arrebenta a visão romântica do feudalismo como se fosse uma ordem bonitinha e divina, mostrando que, na real, foi uma revolução social, política e econômica violenta, desencadeada não por ideais, mas por relações de produção escancaradamente transformadas.
A tal “trifuncionalidade” (oratores, bellatores, laboratores) é uma desculpa ideológica esfarrapada criada por bispos reacionários para justificar a desgraça do povão e legitimar o novo sistema de exploração senhorial.
O que muda no final do século X e começo do XI?
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A guerra vira um negócio privado: cada senhor com seu castelinho, pilhando o próprio povo.
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Os documentos deixam escapar a desgraça social: o vocabulário muda, a hierarquia se bagunça, a opressão vira regra e os camponeses passam de “livres” pra “servos” sem nem perceber.
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Os padres e cavaleiros disputam o poder, mas continuam explorando o povo.
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A Igreja prega que trabalhar como um condenado é caminho para a salvação.
10 Citações:1.
"A sociedade 'feudal' revela-se, aos nossos olhos, pela inovação deste vocabulário."
(p. 172)📌 Comentário: Quando até o latim teve que mudar de roupa, é porque o barraco social já tava pegando fogo. O feudalismo não foi uma invenção elegante: foi uma zorra tão real que até a língua gaguejou.
2.
"O problema político e social mais grave foi o que esta mudança levantou – essa chaga, essa calamidade [...]"
(p. 174)📌 Comentário: A galera do castelo virou gangue organizada, devorando o povo como quem come coxinha em festa. A revolução feudal foi um assalto à mão armada, institucionalizado.
3.
"Será preferível não lhe chamar feudal – o feudo nada tem que ver aqui – mas senhorial."
(p. 175)📌 Comentário: Duby mete o dedo na ferida: chamar isso de “feudalismo” é um erro de etiqueta. O que rola mesmo é o poder do “sire”, o dono da terra e da chibata.
4.
"O trabalho é o comum destino de todos os homens que não são guerreiros nem padres."
(p. 182)📌 Comentário: Se você não tá rezando nem matando, tá ralando. Essa é a lógica suada e cruel da trifuncionalidade medieval. A santidade e a espada dormem na suíte; o camponês tá na senzala.
5.
"Quando Adalberão rasurou o manuscrito do seu poema para substituir labor por dolor..."
(p. 182)📌 Comentário: O cara trocou “trabalho” por “dor” no manuscrito! Isso não é poesia, é confissão de culpa. Sabiam que estavam explorando o povo até o osso – e chamavam isso de “ordem”.
6.
"Os camponeses tinham de convencer-se disso; se punham entusiasmo no trabalho, tinham, entre todos os homens, maior possibilidade de serem salvos."
(p. 183)📌 Comentário: Ah, que lindo! Sofre aí calado que o céu é logo ali. Duby revela a lavagem cerebral: transformar suor em virtude pra manter o povo obediente.
7.
"Confundir, no pecado, os 'príncipes' e os seus sectários, era exigir-lhes os mesmos deveres."
(p. 179)📌 Comentário: A Igreja meteu os cavaleiros e os senhores no mesmo balaio do capeta. O discurso moral virou arma contra a galera da espada, mas não mexeu um fio de cabelo na estrutura de poder.
8.
"Servi – é, no fim de contas, a palavra que Adalberão escolheu para designar os agentes da terceira função."
(p. 182)📌 Comentário: O camponês nem era mais “laborator”, virou “servo” de vez. O termo é claro: você trabalha, se ferra e ainda tem que agradecer. Como dizem hoje: “grato pela oportunidade”.
9.
"Os quatro modelos ideológicos que em 1025 se defrontavam [...] tentavam edificar [...] uma ordem que correspondesse às intenções divinas."
(p. 184)📌 Comentário: Tava todo mundo desesperado querendo dizer que Deus queria mesmo era ver o pobre se lascar. Se isso não é fanfic teológica de dominação, não sei o que é.
10.
"O Carmen é o anti-Roldão: toma partido por Ganelon."
(p. 186)📌 Comentário: Essa é fina: Ganelon, o traidor da Canção de Rolando. Ou seja, Adalberão tava do lado dos velhos reacionários, querendo frear a juventude cavaleira e o monaquismo vibrante. Um velho reclamando do mundo moderno em pleno ano mil.
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