A Queda da Monarquia e a Bagunça da República no Brasil


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A monarquia no Brasil não acabou do nada. Foi um processo lento, onde o povo e as elites foram perdendo a paciência com o imperador D. Pedro II. Maria Tereza Chaves de Mello, no livro A República Consentida, mostra que o cara, que antes era visto como um pai do povo, foi perdendo o respeito. As elites, a Igreja e até os militares começaram a achar que a monarquia era um atraso. Aí, quando a República chegou em 1889, muita gente achou que ia ser a salvação.

Só que aí veio a realidade. Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, em Brasil: uma biografia, mostram que a República não foi essa maravilha toda. O povo continuou na merda, os coronéis ainda mandavam, e quem tentava reclamar apanhava ou era esmagado. Teve revolta da vacina, revolta da chibata, Canudos, greve de operário... Ou seja, trocaram seis por meia dúzia.

Isto é, a monarquia caiu porque ninguém aguentava mais, mas a República que veio depois também foi uma zona. No fim, o que mudou mesmo foi só quem estava no poder — os ricos, as elites, aqueles do 1% de elementos que detém 99% das riquezas do país e seus meios de produção, continuaram mandando, e o povo continuou se fodendo. História do Brasil, né? Sempre a mesma novela.

A Crise da Monarquia e a Emergência da República no Brasil: Consentimento e Conflito

Como vimos na introdução acima, a transição da Monarquia para a República no Brasil foi marcada por um processo complexo de desgaste político, descontentamento social e reconfiguração de poder. Maria Tereza Chaves de Mello, em A República Consentida, analisa esse período sob a óptica da "dessacralização do monarca", destacando como a imagem de D. Pedro II, outrora venerada como símbolo de estabilidade, foi progressivamente desconstruída. A autora argumenta que a perda de legitimidade da monarquia não se deu apenas por pressões externas, mas também por uma erosão interna do consenso em torno da figura do imperador. A chamada "bela paz doméstica" — uma alegoria da harmonia política sob o reinado de Pedro II — foi minada por crises econômicas, divergências com a Igreja, e o crescente descontentamento das elites, que passaram a ver no regime republicano uma alternativa mais adequada aos seus interesses. A monarquia, antes vista como garantidora da ordem, tornou-se, aos olhos de muitos, um obstáculo à modernização.

Já Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, em Brasil: uma biografia, abordam a Primeira República sob uma perspectiva mais ampla, enfatizando a participação popular e os conflitos que marcaram os primeiros anos do novo regime. O capítulo "A Primeira República e o Povo nas Ruas" demonstra que, apesar da proclamação ter sido liderada por uma elite militar e oligárquica, a população não permaneceu passiva. Ao contrário, as ruas se tornaram palco de revoltas, greves e movimentos que contestavam tanto a exclusão política quanto as condições de vida precárias. Enquanto Mello foca no declínio da monarquia como um processo de deslegitimação consentida pelas elites, Schwarcz e Starling mostram que a República, uma vez instaurada, enfrentou resistências e contradições, revelando que o novo regime estava longe de ser uma solução pacífica e consensual.

A relação entre os dois textos evidencia uma continuidade de tensões: se a monarquia caiu em parte porque perdeu o apoio dos setores que a sustentavam, a República, por sua vez, não conseguiu estabelecer uma ordem plenamente estável. A "paz doméstica" que se esvaiu no final do Império deu lugar a um cenário de agitação social, onde operários, sertanejos, militares de baixa patente e marginalizados urbanos passaram a exigir espaço. Enquanto Mello analisa o fim de um ciclo político marcado pelo esvaziamento simbólico da monarquia, Schwarcz e Starling mostram que a República, longe de ser uma ruptura democrática, reproduziu exclusões e gerou novos conflitos.

Assim, ambos os trabalhos contribuem para uma compreensão mais nuançada desse período crucial da história brasileira. A queda da monarquia não foi apenas um golpe de Estado, mas o resultado de um longo processo de desgaste; já a Primeira República, embora proclamasse ideais de modernidade e progresso, não conseguiu superar as desigualdades herdadas do Império, mantendo uma estrutura de poder excludente que só seria contestada de forma mais intensa nas décadas seguintes. A República não foi meramente "consentida" — foi também disputada, e suas contradições ajudam a explicar as crises que marcaram o Brasil no século XX.


E. E-Kan 

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Referências:

MELLO, Maria Tereza Chaves (2007). A República Consentida, Cap. 3, “A bela paz doméstica se vai por água abaixo: a desafeição ao regime e a dessacralização do monarca”. 

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa (2015). Brasil: uma biografia, Cap. 13, “A Primeira República e o Povo nas Ruas”.


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