Complexo de Electra mal resolvido...
De acordo com a psicanálise clássica — sim, aquela do velho Freud que enfiava pai e mãe até no café da manhã —, o Complexo de Electra seria a versão feminina do famoso Complexo de Édipo. Quem cunhou esse nome, aliás, foi Carl Jung, não Freud (que tinha um certo ranço com a ideia). Electra, na mitologia, é a filha de Agamêmnon que, inconformada com o assassinato do pai, junta-se ao irmão para meter o machado na cabeça da mãe. Freud coçaria o bigode só de pensar. Mas o ponto aqui não é o assassinato literal, e sim o emocional.
Durante o desenvolvimento psicossexual da criança, segundo essa teoria, a menina entra numa fase em que “deseja” o pai (sim, dá um tilt moral aqui, mas segura o conceito) e vê a mãe como rival. Até aí, Freud e o Tarantino andam lado a lado. O problema é que muitas dessas meninas crescem, viram adultas funcionais (às vezes), e arrastam esse conflito mal resolvido para seus relacionamentos — só que agora com discurso de sororidade, feminismo pop, vídeo de vitimismo e textão no Instagram.
A vingança nunca é plena, Electra enche a vida de problema
E aqui entra o drama do século XXI: a mulher adulta que transfere, inconscientemente, a frustração com o pai para todos os homens da face da Terra. Não importa se o cara é terapeuta ayahuasqueiro, motoboy que resgatou o gato dela ou o padeiro que deu bom dia sorrindo. A sombra do pai paira sobre todos.
Na prática: o pai foi ausente? Frio? Autoritário? Um deus de barro que nunca entregou o afeto prometido? Então, cada relacionamento vira um campo de batalha simbólica onde o "macho" paga a conta psíquica que o patriarca deixou pendurada. O atual namorado não respondeu no WhatsApp? “Mais um macho escroto igual meu pai.” O chefe cobrou o relatório? “Homem tentando me controlar porque se sente ameaçado por mulheres fortes.”
Não é que não haja homens escrotos — há, em profusão. Mas aqui estamos falando do teatro psíquico interno, onde a figura do homem é apenas a tela onde se projeta um ressentimento ancestral. A vingança contra o pai virou uma performance emocional embalada como justiça social. O problema? Ela não cura. Só repete.
Do trauma ao teatro: o looping afetivo da Electra contemporânea
Na tentativa de se vingar do pai, a mulher “eletrocutada” emocionalmente (com o perdão do trocadilho) passa a sabotar os próprios vínculos. É o velho movimento de puxar a faca pela lâmina. Entra em relações fadadas ao fracasso — muitas vezes com homens que se assemelham justamente ao pai (bingo!) — pra poder dizer no final: “Tá vendo? Todos são iguais.” É como se o ego dissesse: “Eu prefiro ter razão do que ser feliz.”
Por trás da fúria e da desconfiança, habita uma criança ferida gritando: “Pai, por que você não me viu?”
Mas essa frase dói. Dizer “homens são todos culpados” é mais fácil. É menos vulnerável. É mais postável.
Conclusão: sair do teatro mental, olhar o espelho e ver a vida como ela é
Electra só se liberta quando entende que os homens do presente não são carrascos do passado e que a narrativa feminista só serve para a lacrolândia, a defesa de ideologia nefasta e de líderes politicopatas que .jogam homens, mulheres e outros no triturador do Estado corrupto. Sobretudo, Electra só se liberta quando entende que o pai real (ou a falta dele) é parte da tragédia humana, faz parte da vida que é dura pra todos, uns mais outros menos, mas não é o script eterno da vida. Enquanto a mulher adulta usa o ódio e o vitimismo fake como vingança mal disfarçada, ela permanece presa à cena original — como uma atriz que nunca sai do palco, mesmo depois que a peça já acabou. E, infelizmente, no mundo das redes umbrais sociais IA-lizadas, a maioria das mulheres tem se comportado como um pedaço de carne exposto no açougue, presas ao passado, tentando se vingar do 'papai malvado'.
Vingança pode até dar like, mas nunca dá paz. Toda Electra mal resolvida faz da vida do homem um inferno (e muitas vezes de modo sutil, camuflado, parecendo coisa boa, parecendo se importar, sobretudo, parecendo 'coisa normal'), porque quer o controle sobre o 'brinquedo/homem' e quando não o tem: esperneia, infantiliza, escandaliza e faz até algo pior se prevalecendo de algumas leis lacrativas feitas para dividir homens e mulheres e, por conseguinte, destruir a família tradicional e fragmentar a sociedade, que já anda à beira do caos total.
Contudo, a Electra que deixou de ser Electra, se acertou com o passado e os demônios do passado, e se tornou uma Mulher com M maiúsculo, não quer o controle, quer parceria, quer Ser Mulher de Verdade, Autônoma, Proativa, Forte e que cuida dos seus. Essa Mulher com M maiúsculo, (tanto em falta nos dias de hoje, quanto Homens com H maiúsculo), só quer o que todo ser humano bem resolvido e decidido quer: respeito, consideração, amor, prazer, viver bem, mas sabendo que também precisa dar para receber. Não existe nada de graça nesse mundo, muito menos no campo interrelacional e afetivo.
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Referências estudadas para o texto:
FREUD, Sigmund. A Sexualidade Feminina (1931). In: Obras Completas, vol. 21. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
➤ Freud fala da "escolha objetal" da menina em relação ao pai e do ressentimento com a mãe durante o processo de diferenciação psicossexual.
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JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos (1921) e ensaios sobre o arquétipo de Electra.
➤ Jung quem cunha o termo “Complexo de Electra”, ampliando o olhar simbólico sobre a ligação pai-filha.
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MITOLOGIA GREGA: Electra, filha de Agamêmnon, conspira com Orestes pra matar a mãe, Clitemnestra, como vingança pela morte do pai.
➤ Arquetípico puro: filha fiel ao pai que canaliza a fúria contra a figura materna. Mas no simbólico moderno, essa energia pode se redirecionar ao masculino como um todo.
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MILLER, Jacques-Alain. “O feminino: o que quer uma mulher?” (1998).
➤ Miller, herdeiro de Lacan, desenvolve a ideia de que o desejo feminino é atravessado por falta, gozo e o Outro (o pai simbólico incluso).
➤ A mulher, ao culpar o homem por tudo, muitas vezes encena a falta paterna.
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