Deterioração econômica no Brasil

 


A deterioração econômica do Brasil não é um fenômeno repentino, mas um processo contínuo que se intensificou ao longo da última década. Desde meados dos anos 2010, a economia brasileira tem enfrentado baixo crescimento, instabilidade política, perda de dinamismo industrial e aumento da vulnerabilidade social. Esse quadro se agravou com choques externos, tensões internas e, mais recentemente, com as sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos. O cenário projetado para 2026 e 2027 é de grande preocupação, com possibilidade de prolongamento da estagnação e ampliação das desigualdades.

No período de 2014 a 2016, o Brasil atravessou uma das piores recessões de sua história recente, com queda acumulada do PIB de mais de 7% (IBGE, 2017). Esse período foi marcado por forte retração do investimento e elevação do desemprego. Ricardo Carneiro (2020) analisa que, a partir dali, o país entrou numa trajetória de baixo crescimento estrutural, caracterizada por fragilidade fiscal e dependência externa.

A partir de 2017, houve recuperação modesta, mas insuficiente para recompor as perdas anteriores. Luiz Gonzaga Belluzzo (2022) ressalta que a política econômica adotada — centrada em austeridade fiscal e juros elevados — comprometeu a capacidade do Estado de induzir o crescimento. O resultado foi um ambiente de estagnação prolongada.

Em 2020, a pandemia de Covid-19 aprofundou essa fragilidade. Apesar de medidas emergenciais terem amortecido o impacto imediato, a retomada foi desigual e beneficiou mais os setores ligados a commodities do que a indústria ou os serviços intensivos em mão de obra. Laura Carvalho (2018) já havia alertado que a combinação de desigualdade estrutural e austeridade comprometeria a recuperação da economia em momentos de crise.

Nos anos recentes, a economia brasileira permaneceu presa em um ciclo de baixo crescimento e alta vulnerabilidade. Em 2023, Marcio Pochmann (2023) destacou que o país se aproximava de uma “armadilha do baixo crescimento”, caracterizada pela incapacidade de gerar empregos de qualidade, pela desindustrialização acelerada e pela concentração de renda.

Em 2025, esse quadro se agravou com novas pressões externas. As sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos — que atingem quase 3.800 itens da pauta exportadora — afetam diretamente a indústria nacional, reduzindo a competitividade e pressionando a inflação (REUTERS, 2025b). A OCDE (2025) projeta crescimento de apenas 2,1% em 2025, desacelerando para 1,6% em 2026, com perspectiva de novo recuo em 2027 caso persistam as restrições comerciais e a instabilidade política.

Outro fator crítico é a política monetária. O Banco Central mantém a taxa Selic em 15%, o maior patamar em duas décadas, para conter uma inflação que segue resistente (REUTERS, 2025c). Essa combinação de juros altos e inflação reduz o poder de compra das famílias, encarece o crédito e desestimula investimentos produtivos, ampliando o risco de estagnação prolongada.

Assim, a trajetória dos últimos anos mostra que a deterioração da economia brasileira é resultado de uma conjunção de fatores internos e externos, que se acumulam e se reforçam. O futuro próximo, especialmente em 2026 e 2027, projeta um cenário de risco elevado: baixo crescimento, alta vulnerabilidade social e aprofundamento da desigualdade. Sem mudanças estruturais — como políticas industriais, fortalecimento do mercado interno e proteção social robusta —, a tendência é que o Brasil caminhe para um período de estagnação ainda mais grave, com impactos profundos principalmente sobre trabalhadores e setores mais pobres da população.

Portanto, pisem no freio, economizem, guardem dinheiro, façam reservas, porque o bicho vai pegar. 


___E. E-Kan 


Referências


BELLUZZO, Luiz Gonzaga. Ensaios sobre o capitalismo no século XXI. São Paulo: Contracorrente, 2022.

CARNEIRO, Ricardo. A economia brasileira e seus desafios estruturais. Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 1-20, 2020.

CARVALHO, Laura. Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico. São Paulo: Todavia, 2018.

IBGE. Produto Interno Bruto – PIB Brasil 2014-2016. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.

OCDE. Economic Outlook – Volume 2025 Issue 1: Brazil. Paris: OECD Publishing, 2025. Disponível em: https://www.oecd.org/en/publications/oecd-economic-outlook-volume-2025-issue-1_83363382-en/full-report/brazil_83564009.html

POCHMANN, Marcio. O mito da austeridade e o fracasso do neoliberalismo no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2023.

REUTERS. Brazil cuts economic growth forecast this year, sees inflation 4.8% in 2025. Reuters, São Paulo, 13 fev. 2025a. Disponível em: https://www.reuters.com/world/americas/brazil-cuts-economic-growth-forecast-this-year-23-sees-inflation-48-2025-02-13

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