Autodeterminação Consciente diante da desumanização nas redes umbrais sociais
A era contemporânea é marcada pela consolidação das chamadas redes umbrais sociais, que, ao invés de promoverem interação saudável e democratização da informação, operam como dispositivos de idiotização, brutalização e alienação em massa.
Essa engrenagem se apoia no que denominamos de “algoritmia do caos IA-lizada”: um conjunto de mecanismos algorítmicos projetados para maximizar engajamento por meio da exploração de emoções negativas, como ódio, indignação e medo. O resultado é um quadro de adoecimento social e mental que aproxima a humanidade, em sua maioria, do processo de Humanidade Zero — estado de desumanização total. (K4n, 2025).
Pesquisas empíricas têm demonstrado os efeitos devastadores desse modelo. O MIT Media Lab (2023) revelou que conteúdos carregados de raiva ou choque têm 300% mais chances de viralizar em comparação a conteúdos informativos ou reflexivos. A PEN America (2022) mostrou que 82% do conteúdo viralizado no Twitter contém elementos de discurso de ódio. Estudos da Journal of Cognitive Science (2023) apontam que o uso intenso das redes sociais pode reduzir em até 4 pontos o QI médio de jovens adultos, resultado de sobrecarga cognitiva e dependência dopaminérgica. A Microsoft Research (2023) constatou que a capacidade de concentração caiu para 8 segundos em média, inferior à de um peixe dourado.
Esse cenário confirma a nossa denúncia desde 2018, e que constam na reedição do nosso livro "As redes umbrais sociais, 2025": as redes umbrais sociais se tornaram “a morfina antes da eutanásia global”, anestesiando e degradando a consciência coletiva. A ignorância, antes fruto de desigualdade educacional ou censura, hoje é cultivada artificialmente por algoritmos que moldam bolhas de confirmação, amplificam fake news e transformam o absurdo em normalidade. A idiotização em massa, longe de ser mero efeito colateral, é o projeto central do capitalismo tecnocrata ultra-dinheirista, que descobre ser “infinitamente mais lucrativo e eficiente destruir mentes do que corpos” (E-KAN, 2025, p. 21).
Nesse contexto, a questão da autodeterminação emerge como resistência possível, ainda que utópica. A teoria da sabotagem contra a algoritmia do caos propõe estratégias de uso racional e minimalista das redes: não seguir ninguém, buscar ativamente informações em vez de consumir passivamente feeds algorítmicos, adotar a pseudonomização e, sobretudo, reduzir a superexposição.
Como sintetizamos em "As Redes Umbrais Sociais": “Não siga ninguém, não se exponha, não seja apenas um número dando lucros à Máfia das Big Techs, use a pseudonomização, seja cada vez mais ninguém nas redes umbrais sociais, até que elas deixem de ser redes umbrais, ou colapsem.”
A postura de uso estritamente racional das redes sociais e a vida retirada, especialmente, na virtualidade, mas também na realidade tangível — um distanciamento deliberado da superexposição — não se excluem, mas se complementam. Ambas têm como horizonte a preservação da saúde mental e o fortalecimento de uma consciência crítica, ao mesmo tempo em que podem pressionar as corporações digitais a se ressignificarem e reurbanizarem. Sherry Turkle (2023) já advertia que estamos diante da “primeira geração fisiologicamente adaptada à servidão digital voluntária”, e que somente rupturas conscientes podem alterar esse quadro.
Embora pareça um projeto utópico, diante de uma humanidade já imersa no processo irreversível de idiotização em massa, essa é a única via que vislumbramos para aqueles que não desejam ser triturados pelo rolo compressor do capitalismo tecnocrata ultra-dinheirista da algoritmia IA-lizada. A autodeterminação digital, ainda que restrita a uma minoria desperta, é hoje a última trincheira contra a Humanidade Zero.
"Só tenho duas grandes metas práticas nessa vida: praticar constantemente o desapego de tudo e todos e me tornar cada vez mais, ninguém; principalmente, ser ninguém nas redes umbrais sociais".
K4n
Referências
ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
E-KAN; K4N. As Redes Umbrais Sociais: Clube de Autores, 2025.
K4N. Teoria da sabotagem contra a algoritmia do caos. Manuscrito, 2025.
MIT MEDIA LAB. AI, Attention and Society. Cambridge: MIT Press, 2023.
MICROSOFT RESEARCH. Digital Attention Span Report. Redmond, 2023.
PEN AMERICA. Hate and Viralization on Social Media. New York, 2022.
SCHULL, Natasha Dow. Addiction by Design: Machine Gambling in Las Vegas. Princeton: Princeton University Press, 2021.
TURKLE, Sherry. The Empathy Diaries. New York: Penguin, 2023.
ZUBOFF, Shoshana. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. New York: Public Affairs, 2019.
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