A guerra contra a desinformação é uma guerra tão perdida quanto a guerra contra a corrupção sistêmica e a guerra às drogas.
Vivemos em tempos em que se declara guerra a tudo. Guerra às drogas, guerra à corrupção, guerra à desinformação, guerra ao terrorismo, guerra ao próprio tempo. O problema é que a maioria dessas guerras são pirotecnias políticas para massagear a moral da galera ou distrair a opinião pública enquanto o circo institucional pega fogo.
"A guerra contra a desinformação é uma guerra tão perdida quanto a guerra contra a corrupção sistêmica e a guerra às drogas.” O aforismo nosso aqui não é exagero: é o epitáfio da civilização que caminha para a ruptura e o suicídio global.
Desinformação e a preguiça de pensar
No caso específico da desinformação, estamos lidando com uma hidra digital de mil cabeças. Corta-se uma fake news, surgem dez. Apaga-se um vídeo conspiratório, nasce um canal inteiro. A mentira, como já dizia Mark Twain, dá a volta ao mundo antes que a verdade calce os sapatos — e hoje, de tênis turbo e Wi-Fi 5G, a mentira já tá em Marte.
A pesquisadora Magda Saraiva vai direto ao ponto: o problema não é só a desinformação em si, mas a preguiça cognitiva generalizada que impede qualquer tentativa séria de correção (SARAIVA, 2025). Traduzindo: mesmo que a verdade apareça, muita gente prefere continuar acreditando na mentira porque pensar dá trabalho. E, convenhamos, pensar não rende like, não viraliza no TikTok, nem entra na thread da semana no X.
Guerra contra a corrupção sistêmica? Faz-me rir...
Vamos dar um pulo para a prima dessa batalha: a famigerada guerra contra a corrupção. Desde o Brasil Império até a Lava Jato (que se desmanchou no ar como castelo de areia regado a delações premiadas), essa guerra já é um clássico da hipocrisia nacional. Ela serve, no fundo, como uma encenação moralista: prende-se um bode expiatório midiático (que é corrupto também) enquanto o verdadeiro sistema (com caminhões de corruptos, principalmente na Elite que manda em tudo, inclusive no bode expiatório corrupto e em todos os politicopatas de antes e de hoje), com suas engrenagens podres, continua funcionando à base de propina, tráfico de influência, relação íntima com o crime organizado, elevando o país a um narco-Estado, enquanto os marajás tomam café e uísques muito bem pagos das cidades até Brasília.
A corrupção não é um acidente. É um dos motores do sistema. Combater a corrupção com mecanismos desse mesmo sistema é como limpar a sujeira usando pano sujo: o resultado é só espalhar mais. Em suma, em termos de Brasil e de mundo, a corrupção sistêmica, comandada pelas Elites, não terá fim nunca, porque se trata de um tremendo esquema muito lucrativo que vem desde tempos imemoráveis e se aprimora cada vez mais no mundo da Algoritmia do Caos IA-lizada.
Guerra às drogas, é outro grande faz de contas...
Agora vamos falar da rainha das guerras perdidas: a guerra às drogas. Nela, morrem os mesmos de sempre — os trabalhadores pobres, sobretudo, os pretos, os pobres e os periféricos — enquanto o tráfico (que tem pretos e periféricos, mas também tem ricos brancos) se fortalece como multinacional informal. Segundo dados da BBC, o comércio de drogas e outras atividades do crime organizado movimenta cerca de US$ 3 trilhões por ano (BBC, 2016). Você leu certo. Três trilhões. Isso é mais que o PIB do Brasil inteiro.
Quer mesmo me convencer de que há vontade política de acabar com esse mercado? Essa guerra rende. Rende muito. Rende para os bancos que lavam dinheiro, para os políticos que ganham voto com discurso de "lei e ordem", para os fornecedores de armas, para a indústria carcerária privada. Rende até para o entretenimento — afinal, quantas séries de sucesso não têm narcos como protagonistas carismáticos?
A guerra às drogas é, portanto, um negócio. Uma encenação moral que garante lucro e controle social. É a simbiose perfeita entre Estado, mercado e hipocrisia.
Para concluir...
Essas três guerras — contra a desinformação, a corrupção e as drogas — são, na verdade, mecanismos de manutenção do status quo. Elas performam uma ação, mas escondem sua real função: garantir que nada mude de verdade. Enquanto isso, o cidadão comum segue anestesiado, desinformado, e alimentando a máquina com seu clique, seu voto e sua indignação seletiva.
A verdade, coitada, não tem lobby, nem trilhões em jogo. Ela caminha devagar, tropeça nos algoritmos e morre soterrada sob uma avalanche de memes.
O fato é que: a guerra às drogas fracassou, a guerra à corrupção é seletiva, e a desinformação virou estratégia de guerrilha da direita fanática, plano de desgoverno de plantão e um mantra da esquerda radical que, cinicamente, chega a chamar a sua narrativa de distorção militante de 'combate à desinformação'.
A verdade, entre fanáticos e politicopatas é o que menos importa. E o povão, que morre de preguiça de pensar, engole a porra toda dando risada.
Com efeito, diante desse cenário, somos obrigados a admitir que não existe solução. Tanto o Brasil, como o resto do mundo, estão 'no bico do corvo' e não há saída. A tendência é sempre piorar, apesar de pequenos avanços isolados.
___E.E-Kan
Referências:
BBC NEWS BRASIL. Drogas e crime organizado movimentam US$ 3 trilhões por ano no mundo, diz especialista. 31 mar. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160331_atividades_crime_organizado_fn. Acesso em: 30 jun. 2025.
SARAIVA, Magda. “Não basta ir à televisão dizer que é falso”: efeitos da desinformação são difíceis de corrigir devido à “preguiça cognitiva”. Expresso, Lisboa, 24 jun. 2025. Disponível em: https://expresso.pt/geracao-e/2025-06-24-nao-basta-ir-a-televisao-dizer-que-e-falso-efeitos-da-desinformacao-sao-dificeis-de-corrigir-devido-a-preguica-cognitiva-9fc7d63a. Acesso em: 30 jun. 2025.
TWAIN, Mark. Mark Twain’s Notebook. New York: Harper & Row, 1935.
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