Um pouco de História do Paraná pelo viés do café...


"Na realidade, até 1853, não existia o Paraná. O território que hoje conhecemos como paranaense pertencia a São Paulo. Que tal conhecer essa parte da história do Estado?" (PRIORI, 2012, p.16).


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Colonização do Norte do Paraná


A partir de 1930, o Norte do Paraná (sempre visto como o quintal de São Paulo), virou a Disneylândia dos cafeeiros. Segundo Angelo Priori em História do Paraná: séculos XIX e XX, a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) chegou com grana dos ingleses e começou a vender a ideia de que essa região era o paraíso perfeito para plantar café. Londrina e Maringá foram desenhadas no mapa como cidades planejadas, tipo maquete de showroom imobiliário, cheias de terrenos que atraiam paulistas, mineiros, italianos, japoneses e "muitos outros"– basicamente todo mundo que topasse uma vida “de sucesso” na lavoura. Só que o negócio de “pequenas propriedades” era fachada (MAS ISSO NÃO TE CONTAM NUMA AULA DE HISTÓRIA); no fundo, (COMO SEMPRE FOI, É E SERÁ, DESDE QUE O MUNDO É MUNDO) a elite é que ditava o ritmo, e os peões do povão, suavam na roça achando que iam virar donos de terra. A CTNP era praticamente uma agência de vendas de sonhos rurais, onde quem realmente ganhava era o grandão do café, que assistia de camarote enquanto o povão fazia a colheita.



No livro do Priori, supracitado, fala como foi a imigração ao Paraná:



[...] Os alemães foram os primeiros imigrantes a chegar ao Paraná, no ano de 1829,fixando-se em Rio Negro. Essa iniciativa coube ao fazendeiro, comerciante e tropeiro João da Silva Machado, que depois se tornou o Barão de Antonina. Os alemães tiveram longa história de imigração no Paraná, que se estendeu desde as primeiras décadas do século XIX, até meados do século XX. Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial parcelas significativas dessa etnia se radicaram no Paraná. Os alemães trouxeram consigo suas atividades tradicionais (agricultura, olaria, marcenaria e carpintaria) e com isso ajudaram no desenvolvimento das cidades, sobretudo no comércio e indústria. As maiores concentrações alemãs do Estado encontram-se em Rolândia, Cambé, Rio Negro e, principalmente, Marechal Cândido Rondon. 
Os imigrantes espanhóis formaram suas colônias em Jacarezinho, Wenceslau Braz e Santo Antônio da Platina. O movimento imigratório para o Paraná tornou-se mais intenso no período compreendido entre os anos de 1942 e 1952, possibilitando uma fixação também na cidade de Londrina. Suas principais atividades estão ligadas ao comércio e à indústria moveleira. 


Os holandeses vieram para o Estado por volta de 1909 e se fixaram nas proximidades de Irati. Algumas famílias, não se adaptando à região, acabaram voltando para a Holanda, enquanto que aquelas persistiram dirigiram-se para a região dos Campos Gerais (Carambeí), fundando uma Cooperativa Holandesa de Laticínios em 1925, a qual é destaque até os dias atuais. 


Os italianos contribuíram muito para o trabalho nas lavouras de café e, posteriormente, em outras culturas. A maior concentração italiana do Estado está em Curitiba, na Lapa, no Litoral, em Palmeira e, também, em Morretes. No Norte do Paraná, praticamente não há cidade sem a presença dos italianos, que primeiramente se radicaram no Estado de São Paulo e, depois, se transferiam para o Paraná, acompanhando as frentes de ocupação e a cultura do café.


Os poloneses chegaram ao Paraná por volta de 1871, transmigrados de Brusque, Santa Catarina. Fixaram-se, principalmente, nas áreas de Mallet, Cruz Machado, Ivaí, Reserva, São Mateus do Sul, Rio Claro e em Curitiba, onde residem, em maioria, nos bairros de Santa Cândida e Abranches.


Os ucranianos vieram para o Paraná entre os anos 1895 e 1897, formando suas colônias entre Mallet e Prudentópolis. Além destas cidades, estão também espalhados por Pato Branco, Roncador e União da Vitória.


Os árabes instalaram-se primeiramente em Paranaguá, ocupando, depois, as cidades de Londrina, Maringá, Curitiba, Araucária, Lapa, Ponta Grossa, Guarapuava, Serro Azul e Foz do Iguaçu, que, hoje, abriga a maior colônia desses imigrantes. Além da forte influência gastronômica, os árabes, no Paraná, se ligaram à arquitetura, à música e à dança.


A imigração portuguesa também representa seus traços fortes no Estado. A presença dos lusos no país sempre foi marcante e intensa por toda a conjuntura da história do Brasil ligada a Portugal. No Paraná, a cidade de Paranaguá, a qual servia de porta de entrada, possui a maior concentração de imigrantes portugueses. Também houve interesse dos lusos pelas regiões de Maringá, Londrina, Campo Mourão e Umuarama, durante o auge do ciclo do café. No Norte do Paraná, ainda hoje os portugueses se destacam, por suas fortes atividades comerciais.


Por um, entre os grupos que merecem destaque estão também os japoneses. Maringá, Londrina, Uraí e Assaí são os grandes núcleos de presença japonesa, e as duas últimas cidades originaram-se como colônias fundadas por japoneses. Em 2008 tivemos as comemorações do centenário da imigração japonesa para o Brasil. Nesse longo século, os imigrantes que chegavam dirigiam-se, principalmente, às lavouras cafeeiras do Estado de São Paulo e do Paraná. Além da cultura tropical, os japoneses se empenharam na piscicultura, cultivo de hortaliças, fruticultura e na introdução da criação do bicho-da-seda no Estado." [...] (PRIORI, 2012, p. 39-41)



Economia Paranaense nos Séculos XIX e XX


A economia do Paraná era quase um combo de lanchonete: erva-mate e madeira no século XIX , virando uma lanchonete de uma coisa só no século XX com o café. Priori diz que o Paraná no século XIX era extrativista, vendendo madeira e mate pra exportação, mas aí vem o café e muda o jogo. Rosalina Izepão em 'Café, Capital Cafeeiro e Industrialização no Paraná', afirma que de 1932 a 1975, literalmente falando, o café virou o novo chefe: trouxe grana, criou indústria e deu aquele 'up'. Contudo, vale notar que Izepão e Gardenal fazem uma ode ao café, meio que dizendo que ele virou quase um “tio Patinhas” de tanto dinheiro que rendia. E rendia mesmo. Mas olha só que tem um 'puta grande porém', a grana ficou mesmo é com a elite, e quem suava era o trabalhador, que seguiu na pindaíba enquanto os donos de terra investiam o lucro nas primeiras fábricas. Então, se foi um avanço? Foi, mas com a desigualdade de sempre.


Transição do Trabalho Escravo para o Livre


A mudança do trabalho escravo para o trabalho “livre” no Paraná foi meio como trocar a chibata por um contrato meio malandro, do tipo: "mil pro dono das Terras, pras empresas, pros ricaços da época e 1 pro povão, que era a miscelânea de imigrandes, negros, paulistas e outros que vieram tentar a sorte por essa bandas, etc etc etc...". Quando a escravidão foi abolida, Priori e Maria Amâncio contam que o governo trouxe um batalhão de imigrantes europeus – italianos, alemães, poloneses – vendendo o sonho de “terra e liberdade”. Só que essa tal liberdade era mais decorativa do que prática: a galera trabalhava muito, e quem mandava mesmo era a elite, que continuava na boa.

"Até o começo do século XVIII, a população da região onde hoje se configura o Paraná era constituída de portugueses, vindos do Reino, castelhanos, índios, negros africanos e de nativos descendentes dessas três raças. A mão de obra constituía a maior dificuldade para o desenvolvimento do território. Nesse contexto, a imigração passou a ser vista como solução para o problema." (PRIORI, 2012, p. 36) 


"Os documentos oficiais da época enfatizam a necessidade de se estimular a imigração no território paranaense. No Relatório do Presidente da Província, do ano de 1854, o Presidente Góes e Vasconcellos afirmou ser essencial “encher de população ativa o vasto território [...] onde o europeu se depara com um clima análogo ao do país natal”. No Relatório de 1855 fica clara a ideia de se “promover a imigração de colonos morigerados e laboriosos”, ou seja, de colonos considerados de bons costumes e trabalhadores. O Relatório apresentado pelo Vice-presidente da Província, em 1857, esclarece que, se o governo desejasse promover a “colonização”, deveria proceder “por meio da venda de terras devolutas” (VASCONCELLOS apud BALHANA; MACHADO; WESTPHALEN,1969, p. 161). (PRIORI, 2012, p. 39). 


Quer dizer, era mais um “muda tudo pra não mudar nada”: entrou contrato no lugar da chibata, mas quem se lascava na roça era o trabalhador. Assim, o Paraná seguia firme com uma nova cara, mas a velha hierarquia onde a elite reinava e o povão labutava para bancar a vida mansa de quem sempre está no topo da hedionda pirâmide social. 

Conflitos Rurais e a Expansão Cafeeira


Quando o café chegou, o Paraná virou um festival de brigas medonhas por terra. Os “conflitos rurais” nada mais eram que uma disputa entre posseiros (que moravam e trabalhavam naquelas terras há tempos) e grandes fazendeiros que queriam expandir suas fazendas de café.  - - - TUDO INVASOR DE TERRAS INDÍGENAS (AQUELA GENTE QUE ESTÁ AQUI HÁ MILHARES DE ANOS ANTES DO EUROPEU SEQUER IMAGINAR VIR PARA O PARANÁ E QUE NÃO FALAM MUITO DISSO NAS SALAS DE AULA, NEM NAS ESCOLAS, NEM NAS FACULDADES, E, POR ISSO, FICA TUDO COMO SE SÓ EXISTISSE A LUTA DOS NEGROS CONTRA OS PORTUGUESES, ESPANHÓIS E OUTROS TIPOS).  - - - Priori conta que, em 1957, os pequenos agricultores se cansaram e botaram o pé na porta na famosa Revolta dos Posseiros, no Sudoeste do Paraná, um verdadeiro show de resistência. Só que o final dessa “resistência” foi meio trágico: 'a polícia' foi chamada pra dar um “pau” nos posseiros, muitos foram presos ou expulsos, e alguns saíram na marra e até mortos. No final das contas, as terras ficaram com quem tinha mais grana e influência, e o povão só deixou sua marca como símbolo de luta pela terra. Também no livro do Priori, é relatada a Revolta de Porecatu, onde os posseiros novamente subiram nas tamancas e enfrentaram 'a polícia' e os fazendeiros que queriam tirá-los da terra. Claro que tudo sempre acaba mal para o povão pobre e fodido da vida. Em resumo... O café (como todas as coisas valiosas nesse mundão sinistro) trouxe riqueza pros grandes, os já podres de ricos da época, mas muita briga e aperto pros pequenos, que acabaram sempre na pior.

Trecho sobre a Revolta de 1957 e alguns porquês da treta:

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Numa perspectiva social, o Paraná possui um amplo histórico de conflitos que envolve a disputa por terras. Nas regiões Sudoeste e Oeste No processo de colonização do Oeste do Paraná, destacou-se a ocupação majoritária por migrantes de origem italiana e alemã, originários dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As condições favoráveis para o desenvolvimento da agricultura foi um fator de motivação para a ocupação da região. Isso ocorreu principalmente durante a Segunda Guerra Mundial (1930-1945), quando ficou evidente que alguns setores do país necessitavam ser ampliados, entre eles, a industrialização, a indústria de base e a criação de uma fronteira agrícola forte. Numa perspectiva social, o Paraná possui um amplo histórico de conflitos que envolve a disputa por terras. Nas regiões Sudoeste e Oeste do Paraná não foi diferente. Isso porque geralmente as terras doadas ou vendidas às colonizadoras estavam em sua maioria ocupadas por posseiros e essas empresas se encarregaram de expulsá-los. A Revolta de 1957 (AMANCIO, 2009) e os conflitos agrários na região Oeste (CRESTANI, 2010) são exemplos de como esse processo de colonização ocorreu no limiar entre o progresso e a violência. (Apud___PRIORI, 2012, p. 84-85). 

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"A segurança de quem comprava a terra era explícita pelo contrato de compra e venda. No entanto, muitos litígios ocorreram na área, pelo fato de que muitas posses eram devolutas, ou mesmo pela ação de grilagem e má fé das empresas colonizadoras (WESTPHALEN; MACHADO; BALHANA, 1988). Muitos pesquisadores afirmam que a Maripá teria sido a única colonizadora da região a garantir tranquilidade e segurança depois da devida compra dos lotes. Uma explicação provável seria o fato de que essa empresa teria comprado a sua gleba de terras, em 1946, da antiga Fazenda Britânica, cujo ex-proprietário, a Companhia de Madeiras Del Alto Paraná, havia efetuado a compra diretamente numa transação legalizada com o Estado do Paraná. A partir do início da década de 1950, começou a chegar à área um grande número de colonos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e do Sudoeste paranaense. Com uma pequena quantia em dinheiro, essas pessoas compravam o ‘direito de posse’ dos primeiros posseiros ou de supostos agentes do Instituto Nacional de Imigração e Colonização. Iniciou-se um ciclo acelerado de compra e venda de posses, que muitas vezes se dava por escambo: “Dez alqueires de terra chegaram valer uma espingarda calibre 32 e uma novilha” (COLOMBO, 2001, p. 14)" (PRIORI, 2012, p. 84-85). 


Sobre Porecatu:

"Nas décadas de 1940 e 1950, aconteceu, no Estado do Paraná, um conflito de terras de impacto nacional, denominado pela imprensa da época de ‘a guerra de Porecatu’. O conflito ocorreu em uma região encravada no extremo Norte do Estado do Paraná, situada no vale do rio Paranapanema. A colonização dessa região começou no final dos anos 1930 e início dos anos 1940, no contexto da nova política de terras, implementada pelo Governo Vargas e conhecida como ‘Marcha para o Oeste’.
É dentro desse contexto histórico que posseiros, pequenos proprietários, trabalhadores e colonos vindos, sobretudo, do Estado de São Paulo, atraídos pela perspectiva de conseguir melhores condições de trabalho e de vida e, principalmente, a posse de uma parcela de terra, vão se radicar naquele sertão quase que desconhecido do Norte do Paraná. Primeiramente, a colonização ocorreu em pequenas posses de terra, por meio do plantio de café, de culturas alimentares e de criação de porcos; posteriormente, em meados dos anos 1940, a organização da propriedade da terra foi realizada com a presença de grandes grileiros, que expulsaram os posseiros e estruturaram as suas propriedades com base no cultivo da cultura do café, na criação de gado, na plantação de cana-de-açúcar, associados com o trabalho assalariado. Portanto, são esses dois agentes sociais - posseiro e grileiro - os personagens de um dos mais importantes conflitos de terra do Estado do Paraná no século XX. A presença desses grandes grileiros na região, que, por meio da polícia, de jagunços e de pistoleiros, expulsavam e tomavam as terras dos posseiros, é que vai motivar a organização de uma resistência - que posteriormente se transformou em resistência armada - com o objetivo de defender as suas posses e benfeitorias nelas existentes. Os conflitos armados tiveram início no final de 1948 e só foram desmobilizados em julho de 1951, com a presença das tropas da Polícia Militar do Estado e de agentes das Delegacias Especializadas de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo e do Paraná. A resistência armada dos posseiros de Porecatu marcou a região, que se constituiu em alvo de grandes reportagens nos principais diários do país e em órgãos de imprensa periódica, como a Revista O Cruzeiro e o semanário Voz Operária, órgão do Partido Comunista Brasileiro (PCB)" (PRIORI, 2012, p. 130-131). 


Café e a Formação do Capital Industrial no Paraná


Enfim, de fato, o café foi a mola-mestra da industrialização no Paraná, ou como diria Izepão e Gardenal, em 'Café, Capital Cafeeiro e Industrialização no Paraná', o patrocinador oficial. ou como nós ironizamos aqui, 'pai café'. Em suma,  Angelo Priori e Luciana Regina Pomari também descrevem que, nos anos 1930 e 1940 (auge em 1960), a lavoura cafeeira gerou tanto dinheiro que começou a bancar a construção de estradas, ferrovias, e o surgimento de uma classe média urbana, puxando o início da industrialização no estado. Mas como sempre, o grosso do dinheiro ficava com os que já eram podres de ricos, os latifundiários, e a nova indústria paranaense (que era de gringos mas também tinha os ricaços paranaenses 'barões do café', metidos no meio) crescia com base nesse lucro cafeeiro. Ou seja, o Paraná ficou industrializado, sim, mas o povão - - -   (como sempre acontece em toda a parte, desde que o mundo é mundo) - - -  seguiu ralando e 'sonhando em ficar rico ou bem de vida um dia' enquanto os grandes já podres de ricos ficaram com o grosso da grana. 



Um pouco sobre a história do café, da África ao Paraná...


Diz PRIORI: "O leitor, com certeza, já ouviu falar da pujança da cafeicultura paranaense entre os anos 1940 e 1970. E com certeza sabe o que significa as expressões ‘ouro negro’ e ‘ouro verde’. Muito mais do que viver uma fase de produção, o café se transformou em orgulho paranaense por simbolizar riqueza, desenvolver cidades, atrair investidores e modernizar algumas regiões do Estado. Mas, afinal, se a cafeicultura paranaense teve grande destaque, por que nos dias atuais os grãos de café não ocupam o primeiro lugar na produção agrícola? É importante deixar claro que o Paraná assistiu ao auge e ao declínio da cafeicultura ao longo do século XX. Mas, como tudo isso começou? De que forma o café chegou às terras paranaenses? Antes de esclarecermos essas e outras questões, que tal fazermos uma viagem pela história do café e sua propagação no continente americano e em solo brasileiro?


Com sua origem creditada ao continente africano, precisamente na região da Etiópia Central, o café teria se expandido para o Oriente por meio de comerciantes árabes. A expansão do café em terras europeias e americanas teria ocorrido com a intensificação das grandes navegações. As primeiras mudas de café teriam sido cultivadas na América no século XVIII e provavelmente seriam oriundas do território ultramarino francês deReunion  8,  conhecido  na  época  como  Ilha  de  Bourbon.  Inicialmente cultivada na Ilha Martinica, na região caribenha, durante os anos de 1720, a plantação de café adaptou-se ao clima dos trópicos. Em 1720 e 1780 já há notícias da existência do café em outras regiões caribenhas (como a Jamaica) e inclusive no próprio continente (como no México e na Venezuela). Também nesse período houve a introdução de mudas cafeeiras pelos holandeses em sua colônia americana, o Suriname.


Acredita-se que, no Brasil, o café foi introduzido em 1727 pelo militar Francisco de Mello Palheta quando foi enviado para intervir na questão de fronteira entre as Guianas Francesa e Holandesa. Palheta trouxe as primeiras sementes e a plantação cafeeira expandiu-se no Norte e Nordeste brasileiro, chegando ao Rio de Janeiro em 1760 e estendendo- se para a região de Minas Gerais após a crise dos veios auríferos (POZZOBON, 2006). Nessa época, o café já se encontrava no mercado e com grande valor comercial, pois na Europa e nos Estados Unidos o consumo da bebida estava crescendo cada vez mais.


No início, a cultura do café não teve muito apelo dos agricultores brasileiros, que naquele período estavam interessados no cultivo da cana- de-açúcar, produto agrícola de maior renda na economia. Mas, em curto espaço de tempo o café já substituía a cultura canavieira, pois a demanda mundial daquele era bem maior e também exigia menor mão de obra. Além disso, diferentemente da cana-de-açúcar, os pés de café reproduziam-se de 30 a 40 anos. Assim, entre 1820 a 1870, o café ocupou, aos poucos, a plantação canavieira e atingiu o auge de sua produção. Tinha início então uma nova etapa econômica do país.


O cultivo do café expandiu-se pelas terras brasileiras e, pelas condições climáticas, se alastrou rapidamente pelo vale do rio Paraíba, chegando a São Paulo na década de 1880. Caio Prado Júnior (1981) considera que o século XIX foi marcado por uma revolução no que se refere à distribuição de suas áreas produtivas. Na visão do autor, dois fatos básicos sustentam mudanças bruscas na área agrícola: o primeiro seria o deslocamento dos centros econômicos das velhas regiões cultiváveis do Norte para as mais recentes do Centro-sul (principalmente o Rio de Janeiro, algumas áreas fronteiriças de Minas Gerais e São Paulo). O outro fator seria a decadência das lavouras tradicionais do Brasil (como a cana- de-açúcar, algodão e o tabaco) e o desenvolvimento do café, que até então não possuía muita importância no cenário econômico brasileiro, mas que ao longo do século XIX aparece com destaque no campo das exportações brasileiras.


Em consonância com Roberto Simonsen (1977), nos anos que compreendem o período entre 1816 e 1822 foi exportada uma média anual de 2 milhões de arrobas (equivalente a 30.000 t) de café pelo porto do Rio de Janeiro. Na análise de Caio Prado Júnior (1981), entre 1821 e 1830, foi registrada uma queda na venda de café, contando com a embarcação de 19.068 toneladas. No entanto, esse autor reconhece que, a partir da década de 1840, o café alavancou o mercado e se tornou o principal produto brasileiro de exportação. De 1856 a 1860 o café respondia por 49% das exportações brasileiras. Já nos anos de 1910 representava 65%, atingindo o índice mais alto em 1920 com o percentual de 70% das exportações.


O café no Paraná


No fim do século XIX e no início do século XX a extensão dos cafeeiros paulistas atingiu o Paraná. Com o aumento excessivo da produção e da oferta, em 1902 o Estado de São Paulo adotou políticas de restrição da produção do café, proibindo o seu plantio por um período de cinco anos. Em função desse problema os fazendeiros paulistas optaram em procurar terras no Norte do Paraná, impulsionando a expansão cafeeira no Estado. Para Nadir Cancian (1981), a cafeicultura no Paraná representou a continuação da ‘marcha para o oeste’ dos paulistas, porque sempre visou a perspectivas de bons lucros. Os fazendeiros paulistas adentraram no Paraná quando as terras daqueles estavam se tornando escassas e com baixa fertilidade. Com isso buscavam novas terras para aumentar a produção e consequentemente gerar maior rentabilidade por meio do desenvolvimento da agricultura comercial, com base na produção de café.


No início do século XX, as terras roxas do Paraná já eram conhecidas por sua alta rentabilidade na produção cafeeira. A disponibilidade dessas terras, os incentivos públicos e a possibilidade de pagamento em condições facilitadas proporcionaram que muitos colonos e lavradores começassem a comprar terras no Norte do Paraná, instalando nessa área a produção cafeeira segundo o modelo paulista. Nesse sentido, a cafeicultura paranaense esteve muito ligada ao Estado de São Paulo e podemos dizer que ela era uma continuidade da economia paulista.


A expansão do café no Paraná foi possível graças a uma série de questões, como aponta Nadir Cancian (1981): política econômica governamental, facilidade de aquisição de terras, clima propício, terras férteis e escoamento da produção por meio de ferrovias que ligavam o Estado ao Porto de Santos. Além disso, a autora enfatiza dois momentos (entre os anos de 1906 a 1929 e 1945 a 1960) de utilização máxima da terra em prol da produção cafeeira em uma conjuntura de preços favoráveis que estimulou novas formas de exploração da terra em nome do abastecimento do mercado e, como consequência, da inclusão do Paraná no cenário da economia nacional. No entanto, o declínio da produção cafeeira paranaense, a partir dos anos de 1960, resultou num esforço de diversificação agrícola e da modificação do nível de produção em algumas regiões do Estado. “Preços baixos corresponderiam à utilização da terra de modo diversificado. Preços altos, ao contrário, incentivariam a tendência para a monocultura” (CANCIAN, 1981, p. 15).


Em fins do século XIX e início do século XX a cultura cafeeira se expandiu por boa parte do setentrião paranaense, principalmente no Norte Velho. Portanto, podemos dizer que foi entre 1886 e 1906 que o café iniciou sua marcha rumo ao Paraná. A expansão cafeeira no Estado contou com fatores que iam além das fronteiras paranaenses: o encontro dos paulistas com a terra roxa, a organização da força de trabalho após a abolição do tráfico de escravos, o crescimento da imigração estrangeira, o amparo à produção, a melhoria dos meios de transporte, o incentivo aos financiamentos de máquinas, o surgimento de programas em defesa do café e a liberação do governo estadual de incentivar o plantio para estimular a progressiva expansão dos cafezais.


Nos anos 1920 e 1930, a expansão cafeeira atingiu a região denominada de Norte Novo (longo território do Norte do Paraná, localizado à margem esquerda do rio Tibagi. Nessa região, a colonização das terras e divisão dos lotes contou com ampla participação da Companhia de Terras Norte do Paraná. A princípio, esta empresa de origem britânica tinha por finalidades ocupar a região e estimular a produção de algodão para que esta matéria-prima se tornasse predominante na Inglaterra. Porém, isso não ocorreu, já que as primeiras plantações de algodão na região não obtiveram resultados satisfatórios. A empresa mudou o seu foco e começou a revender as suas terras em pequenas parcelas territoriais. Além dessa companhia, uma dezena de outras companhias de terras se instalou ao longo do Norte do Paraná, atuando na colonização e fixação de famílias em pequenas propriedades. Essa política atraiu para a região milhares de imigrantes, que vinham com o sonho de conquistar o seu pedaço de terra e produzir café e outros produtos alimentícios. O imigrante passou a ser considerado o fator de estabilidade para o desenvolvimento das cidades e o aumento da produção. Nessa época, o Paraná tornou-se a principal fronteira agrária e agrícola do país, atraindo tanto imigrantes europeus quanto migrantes nacionais." (PRIORI, 2012, p. 92-96)


Em suma, a história do Paraná é uma história também construída sob o trabalho escravo de indígenas e negros, o trabalho análogo à escravidão dos imigrantes em diversos casos, com muita injustiça, briga por terras, guerra, resistência, sangue e suor. E dessa mistura bombástica e conflituosa o Paraná se desprende de São Paulo que, junto dos Portugueses, o sugaram pra dedéu até 1853 e um pouco além, mas trabalha, vai à luta, ganha muito dinheiro com erva-mate, madeira, café e muitas outras coisas, inclusive a agropecuária, as lavouras, investe a grana na industrialização e em novas tendências como o agro e toda uma gama de serviços diversificados, principalmente, após 1975 e, dessa forma, escreve a sua própria história pujante até os dias atuais. 

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Pesquisa e texto de E. E-Kan
Autor, escritor, editor>>>


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

PRIORI, Angelo e outros. História do Paraná (séculos XIX e XX). 

IZEPÃO, Rosalina Lima; GARDENAL, Leonardo Antonio Santin. CAFÉ, CAPITAL CAFEEIRO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO PARANÁ. ARTIGO. 

NETTO, Fernando Franco. Sociedade com escravos no Paraná provincial.  

MACHADO, Pinheiro. Esboço de uma sinopse da História Regional do Paraná. 

OLIVEIRA, Márcio de. Origens do Brasil meridional: dimensões da imigração polonesa no Paraná, 1871 -1914 In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Vol. 22, n. 43, 2009, p. 218 -237. 

V Seminário Internacional da SEO. Brasil no século XIX (Recife, PE). Artigo “A guerra de Porecatu”. PRIORI, Ângelo. “A guerra de Porecatu” In: Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 14, n. 2, p. 367 – 379, 2010

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KAN, E.E. Um pouco de História do Paraná pelo viés do café. Blog Território Filosófico, 2024. Disponível em: https://ekanxiiilc.blogspot.com/2024/11/um-pouco-de-historia-do-parana.html -. Acesso em 11 Nov. 2024

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