As expectativas e as desilusões da vida à la Emma Bovary




Muitas são as expectativas e as ilusões criadas sobre as coisas da vida: amor, felicidade, sucesso, prazer, ter coisas, possuir coisas, ter controle, etc. 

É claro, "somos humanos", nos iludimos, inventamos ilusões, motivos para suportar a vida nesse mundo cão. 

Contudo, no final, (todos sabem disso mas preferem fingir que não sabem), é como diz a música de Moacyr Franco, muito conhecida na voz da eterna Rita Lee: "Tudo vira bosta".

A experiência comprova que quanto mais cedo você entender isso - - - (que a vida humana na Terra é vazia de sentido e que você deve inventar um sentido para suportar a vida, principalmente, a vida em sociedade, sabendo que tudo pode dar errado e o sentido inventado pode ir pelos ares à qualquer momento levando junto você e todo o resto)  - - - menor será a possibilidade de ilusão/desilusão com as coisas da vida. 

Com efeito, apesar de pesares, é possível ser realista e curtir a vida, mesmo num mundo cão como esse. Contudo, a maioria das pessoas nesse mundo insano apostam todas as fichas nas ilusões (diante da incapacidade de suportar a vida sem sentido, vazia e fria como ela é) e quebram a cara. 

De fato, na maioria das vezes, (todos os animais falantes que se acham pensantes, cheios do vazio existencial) tomados por uma insana ânsia de realização, exageram em suas expectativas sob ilusões, romantizam demais, idealizam demais e dão de cara com a desilusão e aí o abismo dos abismos se abre e engole tudo e todos.

A maioria das desilusões são substituídas por outras ilusões/romantizações/idealizações. Mas, chega uma hora que as ilusões não bastam mais e algumas desilusões acabam da pior maneira possível, com a auto-destruição, ou o extermínio seguido do auto-extermínio.

Dizia a iludida Emma Bovary a seu amante Rodolphe, às vésperas da fuga, que não se concretizou (porque o amante deu no pé, achando Emma um tanto louca talvez):

[...] Que infelicidade me poderá então acontecer? Não há deserto, nem precipício, nem oceano que eu não seja capaz de atravessar contigo. À medida que formos vivendo juntos, será como um abraço cada vez mais apertado, mais completo! Não teremos nada que nos perturbe, nenhuma preocupação, nenhum obstáculo! Estaremos sós, entregues a nós mesmos, eternamente… [...]

"Que infelicidade me poderá então acontecer?", dizia Emma.

Após seu momento de aventuras sexuais/amorosas com seus amantes, Emma percebe que tudo deu em nada, que 'tudo virou bosta', que não terá "amor eterno", que não será amada e feliz como esperava e, por isso, se vê desiludida consigo mesma, com seus amantes e com todos à sua volta e opta pelo auto-extermínio, mais adiante.

E quantas e quantos não acabam da mesma forma que Emma Bovary na vida real? Desiludidos e desanimados com tudo?

A vida nesse mundo é desilusão e desgraça na maioria das vezes, de fato. Poucas, pouquíssimas são as coisas aparentemente boas e as pessoas aparentemente boas que preenchem um pouco o nosso vazio existencial. Essa é a verdade. 

A maioria das pessoas são idiotas, más, negativamente egoístas, canalhas, interesseiras e só querem 'te comer', 'te possuir', usar abusar do seu corpo, do seu coração e da sua alma, como se tivessem 'um grande lucro fazendo isso', tolos e malditos que são. Mas, esse é o mundo cão. Um dia da caça, outro do caçador. Ninguém é santinho. Não é? 

O próprio Flaubert, dirá em suas anotações, que para não sofrer com as tragédias humanas e ter um mínimo de paz é preciso se colocar acima da humanidade e meio que esquecer que vivemos num mundo merda como esse em que estamos.

"O único meio de viver em paz é colocar-se, de um salto, acima da humanidade inteira e não ter nada em comum com ela, a não ser pelo olhar", diz Flaubert.

E nós, já o dissemos em Trabalho Cerebral e Filosofia Realista Insólita, o seguinte:

"Se quiser ter alguma alegria num mundo cão como esse, numa vida absurda como a que vivemos nesse hospício chamado Terra, o espírito livre e realista, deve, como um reafirmador da Vida, ser meio doido e de vez em quando ligar o botão de 'foda-se', senão não vive!". 



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