Muitos livros são como uma transa ruim
Particularmente, penso que muitos livros são como uma transa ruim. Muitíssimos outros nem chegam a ser uma transa e só alguns são de fato uma noitada inesquecível.
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"Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo", diz uma frase atribuída a Virgínia Woolf.
Analisando apenas o trecho acima, podemos refletir: ler mudou o mundo? Ler muda o mundo? Ler continuará mudando o mundo?
Atualmente, há cerca de 5 bilhões de pessoas na linha da pobreza ou abaixo dela. Quase 3 bilhões se virando como podem entre assalariados e pessoas fazendo bicos, enquanto no alto da pirâmide social, 1% de desumanos detém, de maneira hedionda, 99% das riquezas da Terra e, se achando donos do Planeta, inflam a mega bolha do abismo social de injustiças, misérias e abusos criminosos.
Ou seja, temos um mundo indo para o buraco, literalmente.
Onde está a mudança?
A leitura muda vidas? Algumas, centenas, milhares, milhões, até pode ser.
Mas mudar o mundo?
Mudar bilhões de indivíduos, historicamente alienados, já perdidos na idiotização em massa? Está comprovado que não.
Isso não significa que estou afirmando que não se deva ler. Não confunda alhos com bugalhos. Apenas digo que "não é bem assim".
Penso que a leitura é só uma ferramenta para uma eventual melhoria a longo prazo. Nada mais que isso.
E a mesma coisa penso sobre a Educação e o conhecimento.
Ser formado, ter diploma muda alguma coisa? Na vida de alguns, milhares, milhões, talvez.
Mas bilhões de indivíduos, independente de terem educação formal, diploma ou um certificado, não mudou, não muda e não mudará muita coisa.
Historicamente, a Educação (o sistema educacional em si), em toda a parte, é uma criação das classes "dominantes/endinheiradas" que visa "treinar" indivíduos para obedecer e servir.
Sim, além de manter parte da população ocupada e controlada, por mais de 18 anos dentro de "escolas e universidades que são mais prisões da mente do que um lugar para se abrir a mente", a Educação (o sistema educacional em si), em sua essência, visa unicamente favorecer as classes dominantes, em todos os aspectos sociais-culturais-políticos, deixando algumas migalhas para o povão que terá uma formação miserável, apenas para não se dizer totalmente analfabeto, ter diploma só por ter, e ser uma mão de obra meia boca e barata à servir com a vida, no círculo vicioso de dominação materialista, as classes dominantes de cada época. Contudo, porém, isso não significa que afirmo que estudar, se formar, obter um diploma seja algo totalmente inútil. Apenas afirmo que 'ter estudo', ter um diploma, para a grande maioria do povão no mundo todo, em todas as épocas da história, está comprovado que não muda muita coisa.
Penso que a educação, a formação, o saber, o conhecimento, a leitura, e até a dita 'sabedoria' são coisas bem distintas e são meras ferramentas para que cada Ser em si possa atingir algum grau de esclarecimento e assim, melhorar individualmente. Nada mais que isso.
Essa é a diferença entre realismo e idealismo.
Não idealizo e nem romantizo nada.
É chato ser realista?
É.
É por isso que a maioria vive de ilusões, idealismos, utopias, romantismos.
Compreensível.
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SOBRE A LEITURA COMO UMA FORMA DE PRAZER
A frase da Woolf, acima, completa, diz: "A real razão continua inescrutável – a leitura nos dá prazer. É um prazer complexo e um prazer difícil; varia de época para época e de livro para livro. Mas ele é suficiente. Na verdade, o prazer é tão grande que não se pode ter dúvidas de que sem ele o mundo seria um lugar muito diferente e muito inferior ao que é. Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo.“ (Virgínia Woolf).
Há dois autores e dois livros que são importantes para o processo de 'dessacralização' da leitura e da literatura: Daniel Pennac com o livro "Como um Romance" e Pierre Bayard com o livro "Como Falar dos Livros Que Não Lemos".
Os dois, cada qual à sua maneira, basicamente, questionam: para que serve a leitura? E falam, cada qual a seu modo, sobre as vigarices do academicismo que finge que leu ou lê "montes de livros" e, também, sobre o fato que é humanamente impossível "ler tudo".
Apesar do livro "Como Falar dos Livros Que Não Lemos", do Bayard parecer mais uma autoajuda para quem não lê nada, mais do que o "Como um Romance" do Pennac, ambos são mais ou menos interessantes para refletir sobre a questão da leitura como uma forma de prazer ou como ter prazer em ler algo 'obrigatório' e não 'obrigatório'.
Particularmente, penso que muitos livros são como uma transa ruim. Muitíssimos outros nem chegam a ser uma transa e só alguns são de fato uma noitada inesquecível.
Ler apenas por ler, por 'obrigação', 'para conseguir uma nota numa disciplina', essa leitura forçada, é como transar sem tesão, apenas por necessidade fisiológica, apenas para 'bater cartão'. Ler por ler é transar só por transar.
Quando desses assuntos sobre leitura e literatura, sempre me recordo de Maquiavel.
João Carlos Brum Torres, na introdução do livro "A Arte da Guerra", de Maquiavel, relata:
[...] "Maquiavel dá uma idéia viva da intensidade de sua vida intelectual ao relatar o que se passava consigo à noite, ao adentrar na solidão de seu escritório:
no umbral me despojo da indumentária quotidiana, suja e embarrada, e me ponho em roupas régias e curiais, e, vestido assim dignamente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, queridamente acolhido, me alimento dessa comida que “solum” me pertence e para a qual nasci (....)." [...]
Ler, estudar, pesquisar, reler, revisar, cavocar mais fundo, estudar outra vez e outra e outra, aprofundar a coisa toda em busca de algo ainda não observado, não encontrado e que permanece ali "oculto" diante dos olhos de todos, (em busca de um novo mundo talvez, como fez Maquiavel e tantos outros na história), isso, para mim, é Ler de Verdade, é Ler com tesão, Ler com Prazer, Ler para Ser. Todo o resto, ler por ler, para meramente 'aparecer e parecer', é uma puta perda de tempo.
____________Emerson
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Imagem: The Park Ridge Public Library is a city library that serves the residents of Park Ridge, Illinois.
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