O Queijo e os vermes, de Carlo Ginsburg



----------

Diz um trecho do livro:

"Todos somos filhos de Deus, da mesma natureza que a do que foi crucificado". Todos: cristãos, heréticos, turcos, judeus - "tem a mesma consideração por todos, e de algum modo todos se salvarão".

Neste ponto, o personagem solta uma 'heresia' imperdoável para os inquisidores.

----

Em suma, trata-se do famoso "O Queijo e os Vermes", onde Carlo Ginzburg nos leva a uma viagem de volta ao século XVI para conhecer um moleiro pra lá de excêntrico chamado Domenico Scandella (Menocchio).

Ele era tipo um Indiana Jones dos livros, mas em vez de aventuras com tesouros, se aventurava nas profundezas da Bíblia, nos confins dos tratados astrológicos e até nas entranhas dos textos folclóricos.

Enquanto isso, Ginzburg, munido de documentos da Inquisição, revela os segredos e as ideias "heréticas" desse moleiro visionário. E olha só, ao invés de sair condenando o Menocchio e suas maluquices, o autor resolveu entender o cara!

Ginsburg, em sua ficção literal da história, viu as crenças desse moleiro como algo coerente dentro do mundinho dele e da época, jogando um holofote na relação entre cultura popular e erudição.

Essa obra virou o queridinho dos historiadores, que agora têm uma desculpa para explorar o mundão das crenças populares e dar voz aos excluídos pela história oficial, muito embora isso não seja uma 'coisa nova' e não tem nada de 'especial'.

Essa história maluca do moleiro, (muito parecida com a de Galileu Galilei) nos faz refletir até hoje sobre o poder, o conhecimento e a importância de ouvir as vozes que não costumam ter vez.

Resumindo, o "Queijo e os Vermes" não é só uma história sobre um cara que viaja na maionese com suas ideias, é, de certa forma, também um tapa na cara da história tradicional, nos lembrando que até um moleiro cheio de queijo na cabeça pode ter algo valioso pra dizer, muito embora isso não exerça qualquer influência nas nossas vidas práticas.


Comentários

Postagens mais visitadas