Diário Filosófico: +365


Em construção /2023

A intenção aqui é ir construindo um livro que poderá vir à ser uma espécie de diário filosófico prático e realista relativamente ao ano de 2023, mas sem nenhum compromisso, sem pressão, de boas, na maciota.  

E-Kan
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O primeiro dia do ano, para grande parte dos bilhões de animais pensantes em todo o Planeta é: acordar de ressaca, comer, beber, dormir, ficar à toa e esperar o dia seguinte na mais pura preguiça de ser. Com efeito, para outros, animais filosofantes como nós, na maioria das vezes, o primeiro dia do ano é algo indescritível, uma mistura de desejo de dias melhores, desejo de nada, desejo de tudo, muitas expectativas, muitas frustrações antecipadas e também de lembranças boas, ruins e meia-boca do ano que se passou, ansiedade, temor e muitos 'serás?' sobre o ano que se inicia. Apesar de todos os excessos que cometemos, os tiros no pé que damos, não apenas em relação a um ano, o ano anterior, mas em todos os anos de nossa tragicômica vida nesse mundo cão, buscamos ser melhores ou pelo menos, menos piores, através de alguma temperança, moderação, tentando encontrar um ponto de equilíbrio à beira do abismo, tateando em meio a escuridão que rodeia a vida, em meio ao desespero e a desolação de existir. Buscamos equilíbrio e sempre nos perdemos no meio do caminho porque não há auto-disciplina que contenha a natureza humana que sempre tende para o descontrole, o excesso, o erro, a imperfeição, a perdição, o caos. Tantos foram os ditos Sábios, Mestres, Pensadores, Filósofos e demais tolos que, frustrados e com medo da força da vida, achavam ser possível fundar uma 'nova filosofia' ou que o valha para controlarem a si mesmos, aos outros mais do que a si mesmos e a natureza do descontrole em si mesmos! O que faz o Ser humano ser humano é justamente a tendência ao desequilíbrio e o desequilíbrio em si. A perfeição pode estar justamente na nossa imperfeição, individualmente e coletivamente. No final, à bem da verdade, percebemos, sobretudo, com a passagem dos anos, que muitas coisas já se perderam, muitas coisas não tem conserto, muitas coisas jamais se realizariam, pouquíssimas coisas realmente importantes sobrevivem apenas na memória e a única certeza factível que temos é que a cada virada do calendário estamos mais próximos do nosso fim inevitável. Diante dessa realidade indelével e incontestável, o Espírito verdadeiramente Livre, o autêntico Viajante da Luz na Escuridão, em sua mais imperfeita e luminosa solidão, se pergunta silenciosamente, (porque a verdadeira Filosofia, dizem alguns, é '
Agere non loqui'): por que diabos devo eu me controlar diante da força incontrolável da Vida? Em suma, viver de verdade, viver à mil é saber se jogar na vida, sobretudo, é saber arriscar-se aos excessos, ao descontrole, ao desequilíbrio, à perdição, com ou sem moderação. Tudo tem seu momento, é verdade, mas a vida, de fato, não é apenas trabalho, 'responsabilidades', sofrimento, dor e ranger de dentes, a vida é, sobretudo, prazer, emoção, paixão, fogo, fúria, força, a vida pulsa orgasmicamente e quem inutilmente tenta reprimir a pulsação da vida e se auto-reprimir diante das forças da natureza, cava a própria cova da morte em vida. Prefiro mil vezes viver desvairadamente do que perambular como um morto em vida. 


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