As elites e a bandidagem: da escravidão, roubo de terras a corrupção sistêmica e o narcotráfico no Brasil
A história das elites brasileiras, esse coto espúrio europeu, rebento insosso de Portugal degredado, é uma novela de terror que nunca acaba: começa com sangue indígena, passa pela escravidão, roubo de terras, coronelismo e chega aos dias atuais, onde a corrupção sistêmica e o narcotráfico se entrelaçam com a fina flor do capital.
Em cada uma das 5.570 cidades do Brasil existem três ou quatro famílias que - - - desde as suas fundações, com heranças do colonialismo invasor - - - controlam a vida social, política e econômica da população, em sua maioria, sempre alienada.
Essas famílias, que enriqueceram à base da matança, da escravidão e da grilagem, hoje aparecem travestidas de “respeitáveis” senhores locais, mas continuam atuando em conluio com o crime organizado ou, em muitos casos, são o próprio crime, só que sentado em gabinetes climatizados.
O que antes era poder armado de jagunços e capangas, hoje se converte em esquemas de lavagem de dinheiro, tráfico de influência e operações financeiras de bilhões, junto a facções do crime organizado e do narcotráfico.
O recente episódio da Operação Carbono Oculto da Polícia Federal, em agosto de 2025, escancarou a sofisticação desse processo. Com 1.400 agentes em campo, mais de 350 mandados cumpridos em oito estados e o bloqueio de mais de R$ 1,2 bilhão, a PF atingiu diretamente o coração do Primeiro Comando da Capital, revelando que o PCC não é apenas facção de periferia, mas um conglomerado econômico com operações em fundos de investimento, postos de combustível e fintechs (ANSA BRASIL, 2025; UOL, 2025).
O que chama a atenção é que parte dessas estruturas estava localizada na Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, onde se imaginava que só houvesse executivos engravatados e investidores visionários. Essa confluência entre crime organizado e “andar de cima” mostra que o tráfico de drogas e a economia ilícita não são fenômenos marginais, mas estão imbricados nas engrenagens centrais do capital nacional.
A ironia é que o Brasil parece viver um paradoxo permanente: o mesmo país que criminaliza pobres e trabalhadores por opiniões nas redes sociais é o que naturaliza que bilhões sejam lavados em fundos de investimento ligados a escritórios de elite, por anos a fio, ou seja, oceanos de dinheiro ficam indo e vindo, sem qualquer ação da Receita e demais órgãos responsáveis por fiscalizar tudo isso. O Zé do Bar é intimado pela Receita se tiver divergências nas suas declarações. Mas os Cartéis do Narcotráfico que atuam junto das Elites Bilionárias e da Cúpula da Classe Política das Cidades Até Brasília, ficam numa boa anos a fio e só caem, mais ou menos, quanto surgem operações que ao final dão em nada, já que de quase R$ 1 trilhão, apreendem ou recuperam 'troco de pinga' de alguns milhões de reais, algumas casas, algumas joias desgastadas e alguns carros usados. Isso quando tudo não é revisto e anulado na 'corte suprema', tempos depois.
Isto é, o crime compensa no Brasil, desde a invasão portuguesa até os dias atuais e, pelo andar da carruagem, vai continuar sendo muito compensatório e lucrativo. E não se pode esquecer que esse mecanismo da corrupção sistêmica, após tais "descobertas", se reorganiza, se reestrutura e acha novas formas de continuar operando em alta, mais sofisticado e mais blindado.
Jessé Souza (2017) já havia mostrado como a elite brasileira construiu-se como herdeira do patrimonialismo escravocrata, mantendo privilégios intocados ao longo dos séculos. Para ele, há um pacto social que legitima desigualdades, sustentado por uma classe média manipulada e por um moralismo seletivo que escolhe quais crimes são puníveis e quais são invisíveis. Em outras palavras, a elite brasileira não apenas produziu a desigualdade, mas a administra em seu próprio favor, enquanto joga para baixo o peso da lei e da repressão.
O que vemos, portanto, é que a lógica colonial não foi superada. O Brasil continua a ser governado por famílias oligárquicas que aprenderam a se reinventar: ontem eram senhores de engenho, hoje são “gestores financeiros”; ontem mandavam matar posseiros e quilombolas, hoje apertam a mão de faccionados que garantem o escoamento do dinheiro sujo; ontem mandavam na política pela força do voto de cabresto, hoje controlam partidos, bancadas, polícias e tribunais. E se em cada cidade pequena há três ou quatro famílias que dominam a política local, em São Paulo, Rio, Brasília, etc, o arranjo se sofisticou e se globalizou. O PCC se tornou uma mega-corporação e, como mega-corporação, não poderia deixar de frequentar a Faria Lima, porque é lá que se decide o destino do dinheiro grande.
A Operação Carbono Oculto, ao atingir o setor energético e financeiro, mostrou que não há fronteira clara entre o “mundo do crime”, o "mundo político" e o “mundo das elites”. No Brasil, esses mundos sempre foram o mesmo, apenas com roupagens diferentes.
Da senzala ao colete slim fit, da chibata ao algoritmo de investimento, da grilagem colonial ao fundo de private equity, o fio é contínuo: elites que se enriquecem à custa da morte, da exploração e da ilegalidade.
A pergunta que fica é se, algum dia, esse pacto histórico hediondo será desfeito ou se o país continuará sendo administrado por essa simbiose perversa entre violência e poder.
Duvidamos e muito que algo vá mudar para melhor. A corrupção é sistêmica em cada uma das cidades deste País até Brasília, sobretudo, as relações de poder entre Elites, políticos e o crime, estão consolidadas. Sobretudo, e infelizmente, o povo sempre foi dividido e agora está mais dividido ainda, incapaz de reagir a nada. Logo, tudo tende ao caos.
Para finalizar, está mais que claro que o Brasil já é, a seu modo, uma espécie de Narco-Estado movido a corrupção sistêmica, na esteira de Colômbia, Bolívia, Peru, México, Venezuela, Nicarágua. Só finge que não. Está tudo tomado, das cidades até Brasília. Talvez seja por isso que o finado Papa Francisco, em tom jocoso, dissera que o Brasil não tem salvação, (muita cachaça, pouca oração) e nós salientamos aqui, 'sem chance de salvação, nem com cachaça, nem com oração'. E outra coisa, não estranhem que após tais "revelações" advindas das "operações policiais", vejamos uma temporada de muito sangue nas ruas, com muita queima de arquivos e matanças por disputa de poder entre facções. Tudo tem consequências. Só os políticos, marionetes das Elites, fingem não saber disso.
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Referências:
ANSA BRASIL. Polícia Federal lança megaoperação contra o PCC em 8 estados. 28 ago. 2025. Disponível em: https://ansabrasil.com.br/brasil/flash/brasil/2025/08/28/pf-lanca-megaoperacao-contra-pcc-em-8-estados_878cfcaf-a2be-4ea3-8e0f-70119fcbfdc8.html. Acesso em: 30 ago. 2025.
E. E-KAN. Território Kan, reflexões. Brasil, 2025.
SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato. São Paulo: Leya, 2017.
UOL. PF bloqueia R$ 1,2 bilhão de 41 pessoas e 251 empresas em esquema do PCC. 28 ago. 2025. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2025/08/28/coletiva-operacao-pf-pcc.htm. Acesso em: 30 ago. 2025.
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