Reflexão sobre a humanidade com a obra O Ateu e o Sábio de Voltaire

[...] "...o ateísmo e o fanatismo são os dois pólos de um universo de confusão e de horror. A pequena zona de virtude está entre esses dois pólos..." [...]  (Voltaire através do Personagem Freind, no Livro O Ateu e o Sábio). 

Voltaire se dizia incapaz de admitir a existência de tudo o que há sem a existência de um Deus, de uma Inteligência Suprema cuja função principal, após a Criação de tudo, é manter tudo o que existe, existindo, ainda que a trancos e barrancos. Daí a frase conhecida: "Se Deus não existisse seria preciso inventá-lo". 

Contudo, para Voltaire, Deus não é o Deus das religiões em geral que falam, cada uma no seu quadrado, de um Deus 'Remunerador' das boas ações e Punidor de más ações, muito menos o Deus sacana e vingativo do velho testamento. 

Para Voltaire, Deus estaria inimaginavelmente longe de nossa pequenez humana, deixando tudo a cargo da própria humanidade dotada da centelha divina, da inteligência em evolução e, sobretudo, do livre arbítrio.

Ou seja, para Voltaire, Deus estaria transitando em toda a parte, nesse mundo e em todos os mundos possíveis, mas sem se envolver com absolutamente nada, deixando tudo a cargo de suas criaturas, como se dissesse: "já fiz minha parte, vocês querem mais o que? Serem Deuses? Então, mexam seus traseiros e vão à luta, evoluam!". Logo, todos que se colocam como representantes de Deus na Terra, para Voltaire, são picaretas, como os Jesuítas que tanto criticara, que para Voltaire, se diziam 'donos da verdade' e sabedores de toda a 'revelação divina', enquanto dizimavam milhões de pessoas entre os povos indígenas das Américas e pelo mundo adentro.

Também, Voltaire aponta para a necessidade de Deus e da vida além, como um freio, para que a humanidade não descambe de vez para a sua primitividade mais hedionda e macabra e assim se auto-extermine ou quase se auto-extermine, como deve, possivelmente já tê-lo feito em outras eras longínquas. 

Assim, o Ateísmo e o fanatismo, para Voltaire, são duas coisas que, tiram o freio da humanidade, com potencial de destruir a 'ideia de Deus' e toda a civilização em barbárie e caos. 

O Ateu, por acreditar que o Deus que lhe apresentaram, de fato não existe, dirá: "Eu sou meu próprio Deus e vivo conforme a minha própria lei". 

E o fanático que acha que fala direto com Deus e que seu Deus é melhor que o Deus do próximo, dirá: Meu Deus é 'Único e O Melhor' e se preciso for, morrer e matar por ele, assim o farei. 

Por fim, Voltaire dirá, em suas palavras, que para a humanidade não se afundar de vez, convém que 'o povão' creia num Deus bom e justo e 'seja bom e justo'. 

É preciso dizer: de nada adianta Crer em um Deus Bom e Justo e fazer o Diabo na Terra, não é? Se todo mal será punido, apenas murmurar palavras não te livrará da punição. Então, o ser humano tem duas escolhas: Ser Bom e Justo, ou pagar pra ver. 

Como diz Raul Seixas na Música, DDI - Discagem Direta Interestelar: "Não é só novena, terço e oração. Invés de resmungar eu quero é ver vocês em ação!"

Agora, em nossa era, o que vemos?

Uma humanidade teleguiada por charlatões politicopatas, corruptopatas, religiopatas e demais estelionatários da vida, que pensando apenas em dinheiro, Ter mais e mais do que já tem, num apego doentio e macabro pelas coisas materiais, usam coisas como Deus, amor ao próximo, democracia, igualdade, liberdade e fraternidade, as distorcem criminosamente, e através de fake news e narrativas bizarras, numa maiêutica do mal, trazem para fora o pior do ser humano e impulsionama ignorância, a idiotização, a brutalização e a desumanização da humanidade, levando o povão, historicamente alienado e agora idiotizado, rebolativo e dançante nas redes umbrais sociais, incapaz de 'olhar para cima' e ver a podridão em que se meteu, a repetir Caim e Abel por toda a parte e pior, "com Deus no coração".

Que tipo de Deus essa humanidade tem no coração? Isto é, que tipo de caricatura de Deus o povão tem no coração? A do Deus dos charlatões, psicopatas, sociopatas, estelionatários da fé, picaretas, criminosos da existência endinheirados e viciados em dinheiro, que se acham donos do Planeta, que não acreditam em Deus algum e que dizem a si mesmos: "eu sou meu próprio Deus e, com a mega fortuna que possuo, faço a minha própria lei".

Isto é, é no Deus dos endinheirados viciados em dinheiro mais do que os 'crackeiros' viciados em drogas da cracolândia, o Deus das ditas classes dominantes (1% dos humanos que detém 99% das riquezas da Terra) e seus comparsas religiopatas de plantão, igualmente viciados em grana fácil e vida mansa, que o povão, em sua maioria, no mundo todo, acredita.

Já disse em outras posts e em meus livros que "se um dia o povão do mundo todo acordar para a vida e pensar em tudo o que fez, sobretudo, pensar sobre o mal que fez em nome de um Deus absurdo que os charlatões, enfiaram em sua cabeça, a consciência pesada, de verdade, fará com que o povão cometa suicídio em massa" dizendo como Jenni de Voltaire: "Ó Céus! Como pude ter o espírito tão alienado para seguir uma criatura tão criminosa?".

Para Jenni, na história de Voltaire, ainda não era tarde demais e ele se recuperou e viveu uma vida boa, justa e honrada, amenizando seus atos malignos anteriores. Mas, para a atual humanidade, para o povão deste mundo, já pode ser tarde demais?  

Digo e repito: "Há sempre tempo para tudo. Mas, o tempo não para, o tempo urge". 

O primeiro passo para que a atual humanidade, o povão, saia dessa 'vida fake', da ilusão, da falsa esperança, da enganação e do caminho da auto-destruição é tomar vergonha na cara, acordar pra vida e parar de idolatrar os picaretas da existência.

Contudo, considerando o grau de idiotização atual, o povão fará isso? Tomar vergonha na cara, acordar pra vida tomar, semancol e trabalhar pela bondade e justiça, para ser melhor ou pelo menos, menos pior? Duvido e muito, infelizmente. 

Com Deus ou sem Deus, com inferno ou sem inferno, com Karma ou sem Karma, com 'remunerações e punições' ou sem elas, a humanidade, em sua esmagadora maioria, infelizmente, já se encontra em um avançado estágio de putrefação mental, moral e espiritual. E ainda, quase que totalmente gadizada e idiotizada, a maioria da humanidade, incapaz de parar e pensar na mega merda que está fazendo, segue caminhando a passos largos para o caos total, sua auto-extinção ou, na hipótese mais 'otimista', de volta para a idade da pedra. Reitero: como já pode ter acontecido em outras Eras distantes.  

E-Kan

Filosofia Supra Realista

Imagem: "Mercado de escravos com o Busto de Voltaire Desaparecido" - Salvador Dali